Carolina foi acolhida pelos cavaleiros brancos e está no Quartel General da Ordem. Tendo reencontrado seu irmão, a vida de Carolina da mais uma guinada enquanto a sombra de novos inimigos se aproximam.
Capítulo 41 - As presas por detrás do sorriso
Capítulo 42 - Olhos puros enraivecidos
Capítulo 43 - A fatalidade de uma coincidência
Capítulo 44 - A essência de uma vingança
Capítulo 45 - Preço em sangue
Capítulo 46 - As leis da caça e do caçador
Capítulo 47 - Ações para o futuro
Capítulo 48 - O preço para a consciência
Capítulo 49 - Dança na corte real
Capítulo 50 - Agitação
Capítulo 41 - As presas por detrás do sorriso
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Eu acordei e meu irmão ainda estava no quarto, com um roupão lendo alguns documentos. –“Dormiste bem Carol? Eu não sabia que você estava tão cansada!”, ele me provocou aquele olhar sem vergonha dele. Eu corei um pouco e respondi –“Bom, era de se imaginar, eu fiquei andando pra lá e pra cá e me infiltrando aqui e ali é natural que eu ficasse esgotada! E ainda acordei cedo!”, eu respondi fazendo uma face brava, mas ele sorriu de uma forma maligna.
-“Acordou cedo? Só se for pro almoço! Você dormiu o dia todo ontem! Eu estava querendo conversar tanto com você, mas vendo seu belo rosto adormecido eu não pude me fazer acorda-la. E a hora do café da manhã já passou a horas.”, ele me disse em um tom cheio de sarcasmo.
-“Mas... mas... O que você está fazendo aqui! E ainda mais de roupão! Você é um soldado não? Você não tem de acordar cedo e ir patrulhar e fazer relatórios ou coisa parecida?”, eu respondi enquanto tropeçava nas palavras.
-“Hmhm. Bem lembrado, mas não. O capitão me deu o dia de folga, então eu posso ficar o dia todo na cama se eu quiser. Entretanto, embora eu seja preguiçoso há coisas que eu tenho de fazer com alguma urgência, por isso estou lendo esses documentos e preparando um resumo para entregar a tarde. Dito isso, vou ficar a tarde fora e só vou voltar a noite então fique a vontade para andar por ai Carol. Uma das minhas empregadas vai andar com você e lhe mostrar o local. Você ir conversar com seus colegas se quiser, eles estão em liberdade limitada por enquanto, mas em breve vou conseguir liberar as restrições que pesam sobre eles. A Ordem é burocrática demais...”, meu irmão se levantou da cadeira e removeu o roupão e pela primeira vez eu vi o corpo coberto de cicatrizes dele. As costas estavam cheias de cicatrizes de cortes. Ele foi até o guarda roupa e pegou uma camisa formal e a vestiu, abotoando-a e saindo em seguida, ele já estava de calça e sapato quando eu acordei.
Eu fiquei ali parada pensando por um momento. Minha mão inconscientemente foi até a marca de escrava que havia em meu ombro e a apertou. Aquelas marcas pareciam marcas feitas por um chicote ou algo similar. Eu não me atrevia a pensar no que meu irmão havia passado. Eu tentei questionar as empregadas, mas elas se negaram a dizer qualquer coisa. Eu me vesti com as roupas que as empregadas me prepararam, um vestido de mangas longas e uma saia longa, e sai para dar uma volta. Minha primeira prioridade era conversar com Jennepher, Edward e Gleidi.
Após uns dez minutos descendo escadas e fazendo curvas, a empregada me levou aos quartos onde eles estavam e nós conseguimos conversar por um tempo. Fiquei sabendo que até então eles não haviam sido torturados nem nada, Gleidi estava particularmente aterrorizada com a ideia de tortura, e tinham sido tratados como convidados, mas não podiam andar por ai sem uma escolta. Eles ficaram surpresos ao saber que eu era irmã do “desgraçado que acabou com a gente sem nem suar” e Jenne me lançou olhares acusadores, mas eu me safei dizendo que não sabia que meu irmão estava vivo e nem que era ele ali e ele só não me derrotou por que reconheceu minha maneira de lutar.
Após isso eu fui ao refeitório, pois já era do almoço. Devo dizer que me senti muito constrangida ao ir almoçar junto dos outros cavaleiros, mas não havia outra maneira, pois essa era a regra da casa. Até mesmo Edward, Jenne e Gleidi foram almoçar comigo. Nós reservamos uma mesa para nós bem no canto da cantina e ficamos lá comendo. Todos os cavaleiros nos lançavam olhares, até mesmo as mulheres que serviam como cavaleiras me lançavam olhares difíceis de entender.
Após algum tempo, um cavaleiro de armadura branca com detalhes verdes se aproximou de nós com um sorriso amável –“Ora ora, mas que honra! Aqui entre nós temos os únicos sobreviventes do encontro com o “Lobo”! O que será que eles fizeram para conseguir ficarem vivos eu imagino?”, embora estivesse sorrindo, as palavras dele me atingiam como facas envenenadas. As escoltas de Edward, Gleidi e Jennepher os levaram de volta aos quartos, alegando que não era bom se envolver com o homem que estava falando de nós. A empregada que estava comigo murmurou em meu ouvido –“Cuidado com esse homem. Ele é o Lorde Jeofrey Hunecraster, ele e o Lorde Averitan não estão em bons termos!”. Eu me levantei e procurei sair também, mas Jeofrey começou a falar de novo –“E vejam só! Esta nobre senhorita aqui não está sendo escoltada por um guarda, mas por uma das empregadas que trabalham diretamente sob o comando do “Lobo”! O que será que esta menina tem para demandar tantos cuidados hm? Será que o homem sem coração finalmente achou uma meretriz para si?”
-“Meu ir... Lorde Averitan jamais faria uma coisa assim! Ele é uma pessoa boa e direita!”, eu respondi em uma explosão de raiva. Foi então que eu percebi que havia sido pega em uma armadilha. Todos os outros cavaleiros começaram a rir, o próprio Jeofrey gargalhou de forma maníaca.
-“Ha! O “Lobo” uma pessoa boa direita!? De onde você veio minha jovem? Não existem ninguém mais odiado que o herege Averitan! Ele é o mais cruel, sem escrúpulos e monstruosos homem a andar nesta cidade! Me espanta ele ainda estar entre as fileiras dos cavaleiros! Talvez ele tenha ameaçado as vidas das famílias dos comandantes para chegar até onde está! Ai saber o que se passa na cabeça daquele assassino!”, eu podia ouvir murmúrios de toda a cantina concordando com Jeofrey, a empregada ao meu lado murmurou em meu ouvido que de fato a reputação de meu irmão era péssima.
Jeofrey ergueu mais ainda a voz e continuou –“Ele matou padres, bispos, cardeais, coroinhas e qualquer um associado com a igreja que passou perto dele. Ele torturou prisioneiros antes de um julgamento justo e os fez confessar crimes que não cometeram! Ele é um monstro que se veste com o manto dos anjos da nossa ordem! Ele deve expulso e depois queimado na fogueira! Todos vocês aqui presentes sabem dos numerosos processos que foram levantados contra ele por causa das atitudes dele. E ele não recebeu uma ÚNICA PUNIÇÃO! Isso é a justiça que nós pregamos? Nós temos um criminoso em nosso meio irmãos!”, Jeofrey parecia um padre falando mal de Satanás.
-“E essa garota... Essa garota olhou a morte nos olhos e está aqui viva para contar a história. Não obstante a isso, ela defende o monstro Averitan! Por que será isso meus irmãos? O que essa menina tem que todos os outros não tiveram e que agora estão sepultados abaixo da terra?”, ele agora se aproximou de mim, me olhando nos olhos –“Houveram mortos que nem um túmulo tiveram. Aquele ataque a catedral deixou inúmeros mortos que nem puderam ser enterrados por que não haviam partes do corpo suficiente para enterrar, tudo isso obra do seu protetor. Me diga menina, o que você tem que fez a lâmina do “Lobo” não ceifar sua vida? O que você tem de tão importante que as outras pessoas tem?”, ele estava agora centímetros de distancia de mim. Eu murmurei o nome de meu irmão em pensamento e pedi para que ele aparecesse.
Foi então que uma lança cruzou o ar e acertou a coluna que estava próxima de mim. A lança ficou entre Jeofrey e eu.
-“Você quer saber o que ela tem seu canalha? Ela tem O MEU SANGUE. Essa garota é minha irmã mais nova. E isso a faz mais merecedora da vida do que todos os outros que eu matei e ainda vou matar! E eu te digo Jeofrey seu desgraçado, se chegar perto dela de novo, eu irei fazer você se juntar ao número de humanos que eu matei. E o mesmo vale para todos os que estão presentes! Se vocês vermes te alguma coisa contra mim, venham e lutem comigo! Honrem o estandarte da ordem e lutem como cavaleiros!”, meu irmão adentrou a cantina com sua armadura branca e prateada, o elmo de lobo em sua mão esquerda.
Jeofrey empalideceu. Atrás de meu irmão estavam cerca de vinte cavaleiros brancos armados e prontos para atacar.
-“Pensei que estivesse de folga hoje herege. E pensar que você trouxe toda a alcateia pulguenta com você...”, Jeofrey murmurou.
-“Você disse alguma coisa verme? Se você tem algo a dizer erga-se e fale! Seja pelo menos metade do homem que seu pai foi antes de eu o matar!”, meu irmão se aproximou e encarou Jeofrey nos olhos. Eu vi Jeofrey encolher e se retirar, todos os que estavam sentados olharam meu irmão com ódio. Meu irmão veio até mim e retirou a lança da parede. Ele se posicionou de tal forma que eu fiquei escondida atrás dele.
-“Eu vou responder a pergunta de vocês cretinos. Eu e os lobos ainda estamos na ordem por que PRECISAM DE NÓS AQUI. Por que o resto de vocês é um bando de inúteis que não sabem fazer nada além de patrulha a cidade e beber até cair. Eu e meus cavaleiros saímos da cidade e repelimos ataques de nórdicos, lutamos contra templários e capturamos malfeitores que vocês nem sequer conseguiram descobrir a identidade! Se querem retirar a 15ª unidade de cavalaria móvel, ou melhor dizendo, se querer ME retirar da ordem, é bom aprenderem a fazer o nosso serviço e serem capazes de lutar como nós lutamos. NÓS invadimos a catedral e lutamos contra a elite templária e não há NENHUM ferido grave nas minhas fileiras!”, meu irmão ergueu a voz e estufou o peito. Os outros cavaleiros que antes o olharam com ódio se encolheram e saíram da cantina. Quando o ultimo saiu, os cavaleiros ao lado de meu irmão relaxaram e removeram os elmos.
-“Não podíamos esperar menos do nosso Vice Capitão! Você mostrou a eles!”, um dos cavaleiros disse enquanto se dirigia a uma mesa.
-“Há! Eu acho que o Jeofrey Cagão se cagou de novo ao ver o Averitan de frente!”, outro soldado ria enquanto andava na direção da sua mesa.
Os cavaleiros começaram a conversar e rir enquanto ia para suas mesas, meu irmão se virou para mim e apontou uma mesa. Eu fui para lá com a empregada e nós sentamos. Meu irmão veio pouco depois com um prato bem servido de comida.
-“Bem... Eu não queria que você ouvisse dos outros, especialmente do Jeofrey Cagão... Mas o que ele disse tem um fundo de verdade. Eu fiz muitas coisas terríveis. Está na hora de te por a par das coisas que aconteceram desde que eu sai do castelo de nossos pais.”
Capítulo 42 - Olhos puros enraivecidos
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Meu irmão comia com refinamento enquanto falava. Seu tom de voz era se emoção, como se estivesse lembrando algo não importante.
-“Uma semana após sair do castelo, o grupo em que eu estava foi atacado por nórdicos e boa parte da minha escolta foi morta. Eu e alguns sobreviventes conseguimos derrotar os atacantes e seguir para a capital, mas nós tivemos de correr muito e cobrir muito terreno em pouco tempo. Eu cheguei a capital com quase trinta nórdicos me perseguindo a cavalo. Após chegar a capital, eu descobri que nossos pais haviam sido mortos e todas as propriedades haviam sido dadas a igreja. Quando souberam disso, os servos que estavam comigo me abandonaram e eu tive de me virar sozinho por um tempo. Tive de roubar comida para me manter vivo e tive de matar os outros moradores de rua que tentavam roubar de mim. O apelido de lobo veio dai, pois eu sempre andava sozinho e a noite. Passei dois anos vivendo assim e a única que me passava pela cabeça eram a como refinar a minha habilidade de luta e se você, minha amada irmã, ainda estava viva. Eu tive de abandonar o nome Averitan por um tempo, pois nossos pais foram marcados como traidores. A biblioteca que nossos pais mantinham por ordem do rei foi incendiada e tudo que lá estava foi perdido. No terceiro ano, eu havia sido marcado como inimigo da cidade, então os Lobos e os cavaleiros brancos vieram atrás de mim. Os Lobos eram patéticos e não me davam trabalho, mas os cavaleiros eram outra história. Eles vinham com armaduras completas e eram extremamente difíceis de abater, graças a isso eu desenvolvi técnicas capazes de derrota-los. Após alguns meses infringindo baixas em ambos, um dos Lordes Cavaleiros veio até o meu “território”. Eu havia feito a antiga casa de nossos país meu “covil” por que sua localização era perfeita para fugir caso eu precisasse e para forçar meus inimigos a lutarem individualmente comigo. O lorde em questão era o Lorde Luiz Gomes. Ele veio até mim e invés de tentar acabar comigo, propôs que eu me juntasse a ele. Fiquei desconfiado a principio, mas após ele entrar completamente desarmado e ficar de joelhos diante de mim, eu fui obrigado a dar um voto de confiança para ele. Desde então eu tenho estado na ordem. Fui treinado diretamente pelo lorde Luiz e servia como vanguarda dele. Usando a influencia dos cavaleiros brancos, eu consegui investigar o que acontece com nossos pais, mas isso é algo que vou contar outra hora. Após um ano servindo como vanguarda, o tenente da nossa divisão foi morto em combate contra um líder nórdico e Luiz me promoveu para tenente e me deu meu próprio batalhão, que é esse bando de idiotas que você vê aqui comigo. O fato aqui é, os outros cavaleiros nunca foram muito com a minha cara e volta e meia armavam contra mim. Grande artes das feridas que tenho são punições aplicadas por causa de injúrias levantadas contra mim por cavaleiros de maior ordem. Além disso, na capital eu matei clérigos indiscriminadamente. “E cada uma dessas mortes me rendeu pelo menos cem chibatadas. Se muito, essas cicatrizes só motivaram a continuar minha cruzada contra a igreja. Carol, em termos grosseiros, a igreja foi a responsável pela morte de nossos pais!”.
Eu perdi o ar após essa revelação de meu irmão, mas ainda ele não me deu oportunidade de perguntar.
-“Eu levei isso ao comando da ordem e exigi providencias, afinal, nossa família era da mais alta estripe da nobreza e favorecida direta do rei. O pai de Jeofrey era o responsável por esses assuntos, e simplesmente me deu as costas. Mais tarde eu descobri que ele estava envolvido com a igreja. Até aquele momento, a igreja e a ordem não eram inimigas, apenas forças opostas dentro do mesmo reino. Quando eu trouxe isso a luz, os lordes alinhados com a igreja todos enviaram assassinos contra mim e tentaram me silenciar. Foi nessa época em que eu matei o pai de Jeofrey. A ordem decidiu afastar os lordes que tinham laços com a igreja e uma guerra civil não declarada foi iniciada entre a igreja e a ordem, e eu usei isso como desculpa para matar os clérigos e correr atrás de informações sobre nossos pais.”.
Meu irmão havia terminado de comer e agora apenas bebia um gole de água de um copo próximo. Eu aproveite o intervalo e perguntei –“Mas e o rei? Você disse que nossa família era favorecida pelo rei... O que ele andou fazendo para permitir que sua biblioteca fosse queimada?”.
Meu irmão respondeu em um tom jocoso –“O antigo rei morreu em uma batalha na fronteira sul e seu filho é idiota feito uma porta. O novo rei é uma marionete na mão dos nobres, nós cavaleiros temos lutado para removê-lo da mão dos nobres e impedir que a igreja o manipule, mas tem sido difícil. Ano após ano o rei reduz a verba da ordem e nós impõe restrições pesadas. Não me espantaria se um dia os nórdicos atacassem e nós não pudéssemos reagir por que o rei achar que nós estávamos “extrapolando nossa autoridade”. Tudo que a ordem faz hoje em dia é extremamente restringido. Por isso tudo que nós fazemos que é sério fazemos na surdina e fora da visão do rei, pois senão ele com certeza nos barraria. Em três dias a ordem vai ter explicar ao rei o que foi o ataque a catedral. E isso não vai ser fácil.”
Meu irmão pegou seu elmo e se levantou. Ele olhou para mim e disse com um sorriso –“nesse meio tempo, vou transformar seus amigos em cavaleiros e você em uma dama nobre minha cara irmã. Agora venha comigo, temos muito que fazer ainda! Graças ao idiota do Jeofrey minha agenda pra hoje mudou totalmente!”.
Capítulo 43 - A fatalidade de uma coincidência
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Enquanto andávamos pelos corredores a passos velozes, ouvi meu irmão murmurar alguma coisa aos dois cavaleiros ao seu lado. Eles acenaram a cabeça e partiram. Andando por mais metros, meu irmão parado por um jovem que parecia ser um mensageiro. Ele tomou a carta que lhe era destinada e leu rapidamente, amassando-a em seguida.
-“Tch. Lá se vai minha agenda para o espaço de novo...”, meu irmão se virou para mim com um olhar sério –“Carol eu ainda tenho a conversar contigo, mas eu andei dando uma investigada na sua vida pelos relatos dos seus companheiros. Perto da borda oeste existe uma vila com representante chamado Rodrigo, isso é verdade?”.
O nome automaticamente me trouxe a figura do calhorda que me matou quando me entregou aos Lobos. –“Sim irmão, isso é verdade, e ele está na minha lista de pessoas a matar.” Eu respondi sem emoção.
-“Hm.. Isso vai ser um problema, por que ele enviou um pedido de ajuda a ordem. Na carta diz que um lorde Nórdico chamado Sven tomou conta da cidade dele e ele quer ajuda para remove-los...”, meu irmão olhou para o seu enquanto falava.
-“SVEN!?”, eu gritei em fúria. Meu irmão me olhou espantado. Eu o puxei pela mão até um canto em que não pudéssemos ser vistos nem ouvidos. –“Irmão... Eu não queria lhe contar isso mas...”, eu abaixei a manga sobre meu ombro e deixei a mostra a marca de escrava –“Por cerca de dois anos e meio eu estive a serviço de Sven e...”, eu parei na metade. Não consegui continuar, pois os olhos de meu irmão estavam me assustando.
-“Eu quero dez cavaleiros armados prontos para invadir uma cidade tomada por nórdicos. Preparem armas de cerco, provisões e cavalos de guerra. Quero isso tudo feito em meia hora. PARTAM AGORA!”, meu irmão virou para seus cavaleiros que nos seguiam desde que saímos do refeitório em fila indiana. Eles bateram no peito enquanto falavam “Sim, senhor!” e se moviam rapidamente pela edificação. Eu pude ver um filete de sangue escorrer pelo lábio de meu irmão, tão forte ele estava mordendo-o.
-“Carolina. Vou te perguntar isso apenas uma vez. Esse porco desgraçado por acaso lhe tomou a inocência?”, o tom era extremamente baixo e frio.
-“N-Não... Ele nunca tentou. Mas desde que eu cheguei eu fui forçada a lutar como uma gladiadora, e depois dele armar para me matar e falhar, ele me marcou como escrava e ia tentar me vender, mas eu escapei antes...”, eu respondi afobadamente.
-“Imagino que ele está em primeiro lugar a sua lista de pessoas a matar não é mesmo?”, eu acenei a cabeça positivamente, meu irmão ainda continuava a olhar para o alto, mas eu estava me sentindo aterrorizada por estar perto dele. Olhei para trás e pude perceber que Edward, Gleidi e Jenne não estavam entendendo o que estava acontecendo. –“Então eu vou lhe dar esse prazer Carol... Você vai ter a morte dele... Mas não sem antes eu fazer ele desejar a morte... E eu vou negar isso a ele até o fim.”
Meu irmão começou a rir de uma forma meio sinistra. Ele voltou virou a cabeça e me encarou, e eu pude um olhar morto em seus olhos. Como se a chama da vida que havia antes houvesse congelado. Meu irmão arranjou para mim, Edward, Gleidi e Jenne dizendo que, se eles fossem úteis durante a batalha, teriam sua liberdade total garantida. Uma hora depois, um grupo de quinze cavaleiros mais nós quatro saiu da capital pelo portão oeste em direção a cidade que Sven havia dominado.
Eu não havia percebido a principio, mas após cavalgar dois dias diretos sem descanso, eu pude perceber que os cavaleiros brancos e seus cavalos eram monstros. Os cavalos eram imensos, com mais de dois metros das patas até a cabeça. Chamados de “Cavalos de Guerra”, eles eram criados especificamente para viagens e lutas. Mas não obstante a isso, os cavaleiros também estavam a dois dias sem dormir e sem parar para nada. Eles comiam e bebiam água em cima dos cavalos. Meu irmão disse que eu podia dormir sem problemas sobre o cavalo, pois eles eram treinados para manter o cavaleiro montado não importasse o que. Eu havia deitado sobre o pescoço imenso do cavalo que eu estava montada e havia dormido umas três vezes nesses dois dias. Outra coisa incomum era o silêncio. Os cavaleiros não conversavam e nem falavam nada, eles apenas cavalgavam.
Eu conversei um pouco com Jenne e Edward sobre a situação atual e eles até que confiantes, pois eles queriam saber o que era lutar com nórdicos a sério. Gleidi estava aterrorizada com os cavaleiros e não conseguiu falar nada a viagem toda. Nós só paramos um pouco antes de chegar a cidade, pois havíamos chegado em um rio e os cavaleiros desceram e deixaram os cavalos pastar e beber água. Ali perto havia um vagão de viagem quebrado, e foi lá que eu reencontrei o “xerife” Rodrigo. Ele saudou meu irmão e explicou a situação a ele, mas eu podia ver o medo em seus olhos quando olhou para mim e me reconheceu. Além disso, a expressão maligna que meu irmão tinha o fez pensar que talvez não era tão ruim ter os nórdicos na cidade.
Capítulo 44 - A essência de uma vingança
- Spoiler:
Meu irmão olhou Rodrigo no fundo dos olhos dele, e eu sabia exatamente o que ele estava pensando. A mente dele estava revisitando a exata ocasião em que ele me vende para os Lobos, e ele sabia que essa decisão estava agora pagando seus devidos dividendos. Meu irmão pegou Rodrigo pelo colarinho da camisa e o arremessou na minha direção.
-“Ele é peixe pequeno e não mais que um tolo que fora controlado pelo medo. Embora o fato de ter tramado contra você o faça digno de pena capital, eu não irei decidir o destino dele. Carolina, você tem dez minutos para decidir o que fazer com ele, pois após esse tempo nós atacaremos.”, meu irmão disse em tom sério. Ele só me chamava de Carolina quando ele estava de extremo mau humor ou estava muito sério. Ele seguiu para junto dos outros cavaleiros, que agora faziam uma refeição.
Rodrigo estava aos meus pés, quase se mijando de medo e me olhando como um rato diante da serpente.
-“Eu concordo com o seu irmão Carol. Ele merece a pena de morte.”, Edward disse de forma direta.
-“Eu concordo também, por causa nós quase morremos. Justo ele pagar o preço agora.”, Jenne disse enquanto estalava os dedos –“E eu vou querer quebrar o pescoço dele.”
-“Eu acho que nós não devemos mata-lo. O seu irmão disse que ele foi manipulado pelo medo não? Você não pode condenar uma pessoa por seguir seus instintos, e você sabe disse muito bem não sabe Carol?”, Gleidi dava um argumento solido para que eu não terminasse a vida do pobre diabo.
Durante esses comentários, eu mantive meus olhos fixos nos olhos de Rodrigo. Pensei por alguns momentos, puxei meu punhal se sua bainha em minha perna direita. Passei o dedo pela lamina e olhei para Rodrigo. Eu podia ver o medo em seus olhos, eu podia ver ele implorando pela vida. Mas eu já havia decidido. Com um movimento rápido e eficiente eu passei a lamina, e o sangue jorrou.
-“Carol, sério isso!?”, Edward me olhava espantado. Rodrigo estava agora no chão, agonizando e choramingando enquanto suas mãos cobriam o lugar onde até alguns segundos atrás estava sua orelha direita. Eu fiz um movimento rápido para retirar o sangue da lamina e coloquei meu punhal de volta na bainha. Me virei e segui na direção de meu irmão sem olhar para trás, Jenne e Gleidi me seguiram enquanto Edward ficava olhando incrédulo.
-“Você teve sorte meu chapa... Ela só arrancou seu escutador de fofocas! Acho que agora você aprendeu que não se deve cruzar o caminho de um assassino... Bem, não que faça diferença mesmo!”, Edward saiu rindo, fazendo questão de pisar na orelha decepada no chão, em meio a uma pequena poça de sangue.
-“Aquilo foi desnecessário Edward.”, eu o reprimi com uma voz gélida. Pude sentir o olhar de meu irmão em minhas costas me avaliando. –“Você acha que eu tomei a decisão correta irmão? Eu não achei que mata-lo fosse ser algo bom, e nem iria me satisfazer.”.
Meu irmão me olhou no fundo dos olhos, e então abriu um sorriso. –“A decisão era sua Carol. Eu não vou critica-la nem elogia-la. Mas devo dizer que fico mais tranquilo em saber que você tem plena visão de quem realmente é seu inimigo.”.
Após os dez minutos, os cavaleiros partiram em direção a cidade. Meu irmão estava a frente, os outros cavaleiros estavam em uma formação em V ao redor dele. Os cavaleiros de cada ponta soaram uma trompa quando nós chegamos a cidade. Havia nórdicos para todos os lados, mas eles foram pegos de surpresa e não ofereçam resistência. Na primeira investida, pelo menos vinte nórdicos morreram, nenhum cavaleiro errou seu alvo. Eu, Jennepher, Edward e Gleidi descemos dos cavalos e nos esgueiramos pela cidade. Os cavaleiros desmontaram e mandaram seus cavalos para longe. No instante seguinte, centenas de nórdicos apareceram de todos os lugares portando as mais diversas armas e armaduras.
A voz de meu irmão ecoou como um trovão vindo dos céus –“Pela violência e horror a honra ira brilhar! Eu sei que vocês não irão se render... Então VENHAM ATÉ NÓS!”. Meu irmão virou para seus cavaleiros por um momento –“Olhando para vocês eu sei que não há medo em seus corações e que vocês nunca se renderão. Agora com honra e força nós lutaremos! NÓS NÃO MOSTRAREMOS MISERICÓRDIA ENQUANTO ELES CAEM! NÓS NÃO DAREMOS MISERICÓRDIA! MATEM TODOS!”. Os cavaleiros rugiram com vigor e mais um grito de meu irmão ecoou –“PAREDE DE ESCUDOS! AGORA!”, os cavaleiros fizeram duas filas com 10 cavaleiros em cada uma. Escudo com escudo, armas as postos.
Os nórdicos se jogaram contra a parede de aço e fúria branca erguida por meu irmão. Eles marchavam devagar, mas a cada passo, uma dezena de nórdicos caia aos seus pés. Do outro lado da cidade eu vi os nórdicos montando uma parede de escudos também. Esse era o pior cenário, pois o encontro de duas paredes de escudos é o reino da morte. Ali, onde os homens estão entrelaçados como amantes, apenas os mais fortes e com os nervos mais resistentes emergem vivos.
Eu segui para os telhados enquanto desejava sorte para meu irmão. Sendo seguido de perto por meus companheiros, nós escalamos e corremos pelos prédios. Lá em cima nós encontramos alguns bêbados que foram rapidamente executados. Os nórdicos não eram habituados a usar arqueiros, então nós estávamos relativamente seguros, pelo menos por enquanto.
Capítulo 45 - Preço em sangue
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Lordes nórdicos são espaçosos.
Na cultura deles, quanto mais espaço você tem para você, mais importante e poderoso você é. Obviamente, Sven estaria na maior e mais luxuosa casa da cidade, a casa do prefeito. Dada a situação da cidade, eu podia imaginar que ele ou estava morto ou havia fugido com os outros moradores.
Após mais alguns minutos de corrida, eu cheguei ao telhado do casarão. Olhei para a cidade e vi as muralhas de escudo lentamente se aproximando uma da outra. Meu irmão disse que usa muralha iria agir como chamariz e que eu devia dar cabo de Sven, então ele faria o máximo para manter a atenção de nórdico da cidade nele.
Entramos rapidamente por uma das janelas que havia no segundo andar da casa. Saindo do quarto e espiando do andar de cima, eu podia ver que a sala principal havia se tornado uma espécie de sala do trono. Havia apenas uma cadeira opulenta no meio da sala, e Sven estava sentado nela, olhando as coisas acontecendo lá fora através da janela. Ele estava vestido com armadura completa, e isso era uma coisa que não havia antecipado e que poderia ser uma imensa complicação. Não havia mais ninguém na construção além de Sven, eu e meus companheiros.
-“Desçam logo dai. Eu sei muito que os cavaleiros ali fora são uma distração.”, Sven disse em um monótono. Ele levantou de seu trono, puxou seu machado de lamina dupla e seu escudo e olhou na minha direção –“Venha pirralha Averitan! Vou me redimir do meu erro de não tê-la matado anos atrás!”.
Eu saltei da onde estava e aterrissei na frente dele. Edward e os demais fizeram o mesmo.
-“Acha mesmo que pode contra nós quatro?, Edward provou.
-“Vocês não são nem o suficiente para eu começar. Vocês não passam de pirralhos que cortaram alguns pescoços bêbados e se acham assassinos. Eu já sobrevivi a dezenas de paredes de escudos, e o que eu passei lá me faz mais do que preparado para lidar com vocês. Na verdade, se vocês deveriam ter vindo com pelo menos vinte pessoas. Quem sabe assim eu tenho um aquecimento descente antes de enfrentar o seu irmão mais velho pirralha.”, Sven cuspiu na direção de Edward enquanto respondia a provocação.
-“Parece que você andou estudando hm? Quando eu era sua gladiadora você nem sabia quem eu era!”, eu respondi com um olhar sarcástico.
-“Há, verdade. Gertrude havia me dito que você era só uma pirralha filha de um João-Ninguém, por isso resolvi brincar um pouco e te transformar na minha boneca lutadora. Gertrude já cruzou a ponte de sombras por ter mentido para mim. Ela colocou a criança daqueles que eu fui ordenado a matar bem debaixo do meu nariz... Acho que seus pais realmente cuidaram bem dela. Imagino se seu ´pai não trepou com elas algumas vezes para faze-la agir assim.”, ele olhou para cima e continuou, -“Eu não esperava que seu irmão sobrevivesse. Mas ele matou meus cavaleiros e conseguiu chegar a cidade. Não obstante a isso, ele ainda matou meus empregadores. Sabe o quão foi difícil fazer a Igreja me dar a missão de eliminar a sua família? Eu tive de matar uns três outros lordes de clãs para conseguir. Seu irmão acabou com uma fonte de renda bem lucrativa minha... Mas ele também me ajudou um pouco. Ao sair por ai caçando nórdicos por fora das paredes da capital, seu irmão eliminou vários líderes e fez com que seus soldados viessem a mim. Isso aumentou consideravelmente meu poder. Eu seria grande lorde agora se não fosse o que você fez anos atrás, matando o filho de um dos lordes mais importante...”.
Eu ri daquilo apenas por fora, pois por dentro eu estava furiosa –“Que pena, mas foi erro de planejamento seu. Você devia saber muito bem que eu iria matar eles. VOCÊ me fez uma assassina.”.
Dessa vez foi Sven que riu –“Você, uma assassina? Essa é a melhor piada que eu já ouvi. Pirralha, você não passa de um brinquedo que eu peguei que sabia usar o lado certo de uma lamina! Mas chega de conversa, vou mata-la aqui para fazer seu irmão entrar em fúria e perder a razão. A cabeça do lobo vai ser minha, e eu vou finalmente dar cabo do que resta dos Averitans!”.
Sven saltou em minha direção e fez um movimento vigoroso com seu machado. Seu golpe foi aparado por Edward, mas Sven era tão poderoso que fez Edward voar e ser jogado contra a parede. Gleidi tentou acerta-lo com sua lança, mas o escudo de Sven bloqueou todas as investidas. Jenne tentou alguns golpes, mas seus socos e chutes nem fizeram Sven nota-la. Ele fez um movimento horizontal com o machado que as fez recuar. Eu aproveitei essa deixa e mergulhei sobre ele. Desviei de seu golpe com o escudo e tentei cortar sua axila, mas ele se moveu para a esquerda e me acertou um chute no abdômen muito forte, me arremessando contra a parede oposta. Ao aterrissar eu senti uma dor tremenda e não conseguia me mexer, possivelmente eu havia quebrado algumas costelas.
Sven veio na minha direção andando calmamente, mas Edward e Gleidi o interceptaram. Jenne veio por baixo tentando golpear a parte de trás do joelho, mas Sven se virou com velocidade e acertou um murro na cara de Edward, na parte esquerda do rosto e jogando para longe. Jenne teve seu golpe repelido pela armadura. Sven pisou em sua mão e esmagou seu punho esquerdo com o escudo antes de chuta-la no queixo para longe. Gleidi saltou para o lado e tentou investir, mas o machado de Sven veio horizontalmente e cortou Gleidi e sua lança ao meio. A cintura de Gleidi caiu a frente de Sven enquanto seu torso foi arremessado para fora.
-“Isso é tudo? Eu esperava mais...”, Sven olhou em volta, eu pude ver Edward se levantando. Sven foi até ele e o ergueu com a mão esquerda, que portava o escudo. Em um gesto de brutalidade, ele atravessou o olho esquerdo de Edward com o polegar e o arremessou pela janela em seguida. Jenne estava caída por perto e ele simplesmente a chutou para fora.
Eu me levantei com dificuldade e encarei Sven.
-“A essa altura seu irmão já deve estar morto. Não ouço mais os sons da batalha. Eu tinha mais de quinhentos guerreiros estacionados nessa vila de merda. Seu irmão tinha vinte cavaleiros, é meio óbvio quem iria vencer não?”, ele disse enquanto caminhava na minha direção. Eu segurava meu punhal na mão direita com toda a força que me restava.
A porta da frente se escancarou e eu vi a figura de um nórdico por ela. Isso me fez cair em desespero. Sven olhou na direção do nórdico e sorriu –“Parece que minha vitória está completa!”.
Capítulo 46 - As leis da caça e do caçador
- Spoiler:
O nórdico olhou na direção de Sven e fez de menção de falar algo, mas antes que qualquer palavra saísse de seus lábios, três laminas brotaram de seu peito e foram removidas em seguida. O nórdico olhou para seu peito em pânico e olhou de volta para Sven. Antes que Sven pudesse fazer algo, o nórdico caiu no chão e uma possa de sangue se formou.
-“Mas que diabos foi isso...”, Sven murmurou. Antes que pudesse completar seu pensamento, cinco cavaleiros brancos adentraram a sala com armas em punho e se colocaram entre mim e Sven. –“Não sei como vocês chegaram aqui, mas é melhor saírem do caminho se não quiserem morrer pra mim. Em breve meus guerreiros irão pegar vocês e...”.
-“Que guerreiros? Você foi o único que sobrou.”, O cavaleiro diretamente a minha frente respondeu, -“Nós entramos aqui apenas para buscar a garota aqui e a amiga dela, mas visto que a menina com a lança foi partida em duas não temos muito que salvar... Nosso comandante está te esperando lá fora nórdico. Não é sábio deixa-lo esperando.”, E com isso os cavaleiros me escoltaram para fora deixando Sven para trás com cara de desacreditado.
Quando sai da casa e olhei em volta não acreditei no que vi. Havia centenas de cadáveres espalhados pelo chão, empilhados uns sobre os outros ou simplesmente atirados para fora do caminho. Os cadáveres estavam formando uma estrada que ia até o começo da cidade. Era possível ver pelas marcas no chão que a “estrada” na verdade havia sido onde a parede de escudos dos cavaleiros havia passado. Passo a passo ela marchou até aqui, matando nórdicos e jogando-os de lado. Há uns quinze metros de distancia meu irmão estava de pé com a espada embainhada e o escudo apoiado nas pernas, ele olhava fixamente na direção da porta por onde eu havia saído.
Eu olhei em volta e pude ver que os cavaleiros já estavam tratando de Edward e Jenne. Infelizmente Gleidi não teve salvação. Eu fui carregada na direção deles e colocada deitada em uma cama improvisada com feno. Foram-me aplicadas ataduras nas costas e limparam meus ferimentos para trata-los. Enquanto isso eu olhava para a porta da mansão de onde havia saído. Sven saiu andando calmamente com o machado batendo levemente nos ombros.
-“Não consigo acreditar no que meus olhos veem. Um batalhão inteiro de nórdicos morto por duas dezenas de cavaleiros... Ou meus homens eram muito incompetentes ou vocês são monstros.”.
-“A diferença foi comando. Eu liderei meus cavaleiros na linha de frente, enquanto você ficou sentado esperando o resultado. Os nórdicos jamais venceram os cavaleiros enquanto seus líderes forem covardes que temem lutar em uma parede de escudos.”, meu irmão retrucou com uma voz estranhamente calma.
-“Ho... Pelo tom de voz eu imagino que você seja o irmão daquela pirralha ali. Imagino quantos cavaleiros você perdeu para estar falando comigo agora.”, Sven respondeu em tom de deboche.
-“Nenhum. Todos os que saíram comigo estão vivos e mataram pelo menos cinquenta dos seus. E não me entenda mal, mas é você que está podendo ter o privilégio de falar comigo seu verme. Você deveria estar entre estes cadáveres, mas acho que isso seria honroso demais para uma escória como você.”, dessa vez meu irmão que respondeu com deboche.
Sven deu um ligeiro passo para trás. Ele percebeu que estava em uma posição extremamente desvantajosa. Nisso, ele ergueu o escudo e colocou seu machado em posição.
-“Sven, você tem duas opções. Vem e luta comigo ou tentar fugir e morre. Se você conseguir me matar, nenhum dos meus cavaleiros irá te perseguir.”, meu irmão propôs com uma voz calma. Isso era insano! Ele estava cansado da luta na parede de escudos, como pode dizer algo assim para alguém descansado?
-“Hmph. Você se superestima Averitan. Vou lhe mostrar o preço da arrogância.”, Sven andou alguns passos até estar a cerca de três metros de meu irmão e depois disparou em corrida contra ele, golpeando violentamente com o machado.
Meu irmão se moveu muito pouco. Com um passa para direita ele desviou do golpe vertical do machado e sacou sua espada que até agora estava na bainha. Em seguida ele deu um passo para trás e desviou do golpe horizontal que seguiu. Sven tentou golpeá-lo com o escudo, mas meu irmão fez uma finta para a esquerda e desviou e usou seu escudo para golpear o cotovelo do braço direito de Sven, que segurava o machado.
Sven rodou nos calcanhares com fúria nos olhos usando a força do movimento para tentar fazer um imenso golpe horizontal, mas dessa vez meu irmão bateu com o escudo na parte chata do machado fazendo-o bater no chão. Meu irmão não atacou, invés disso apenas fez uma estocada leve no pé esquerdo de Sven, fazendo-o perde o equilíbrio e dar um passo para trás.
-“Que raio de cavaleiro é você que só fica fugindo e dando esses golpes fracos!?”, Sven urrou e tentou golpear novamente com o escudo, mas meu irmão desviou para a esquerda e saltou a frente, ficando nas costas de Sven. Com um movimento veloz ele cravou a espada no ombro direito de Sven e a enterrou até a empunhadura, a espada saiu pela axila de Sven e o sangue jorrou. Meu irmão em seguida puxou a espada e junto dela o braço direito de Sven.
Sven se virou para encarar meu irmão, mas acabou tropeçando em seu pé esquerdo e ficou com ao rosto no chão. Meu irmão aproximou a ponta da espada da garganta de Sven –“Existe uma maneira bem simples de diferenciar a caça e o caçador. O caçador caça no mais absoluto silêncio. Eu comandei meus homens de tal forma que o combate acabasse rápido. Seus vikings bêbados não foram nem um exercício para meus cavaleiros. Nós ficamos esperando para ver qual seria o resultado da luta dentro da mansão. Quando você arremessou o garoto e garota para fora, você simplesmente nós deu o sinal que precisávamos. Nós mantivemos um de seus homens vivo justamente para servir de isca e garantir que meu time de resgate entraria na mansão e resgataria os sobreviventes. Como você pode ver, o que nos diferencia é que eu sei comandar as minhas tropas para a sua eficiência máxima, enquanto você é apenas um lorde de clã incompetente que comanda homens mais incompetentes que você.”, nisso meu irmão embainhou sua espada e fez sinal para mim.
Os cavaleiros me ajudaram a andar até lá e consegui ficar de pé ao lado de meu irmão.
-“Carolina, sei que não é muito e que você perdeu a sua companheira... Mas lhe dou a vida deste imbecil com complexo de grandeza.”, Meu irmão me olhou com dor nos olhos.
-“Não precisa disso irmão, só existe uma sentença a ser passada a esse bastardo!”, eu puxei meu punhal e o segurei com toda a força que tinha. Meu irmão seguiu meu exemplo e puxou o punhal dele.
-“Se importa se eu também fizer isso?”, ele me perguntou sorrindo.
-“Não, ele é inimigo da nossa família. Que seja julgando por nós!”, e com isso nós dois descemos os punhais com força no crânio de Sven. As laminas foram tão fundo que saíram em seus olhos.
-“Vingança... Como esperei por isso...”, eu me sentia satisfeita, apesar de sentir uma dor incrível em meu corpo, mas estava contente.
Capítulo 47 - Ações para o futuro
- Spoiler:
Ficamos mais algumas horas na cidade. Os habitantes já estavam voltando e meu irmão os reuniu no centro da cidade.
-“Eu quero falar com o magistrado daqui, ou aquele que tem autoridade de governo.”, meu irmão falou para o grupo de habitantes.
-“Esse seria eu.”, Rodrigo veio a frente. Com a cabeça enfaixada para estancar o sangramento de ter sua orelha cortada fora, ele agora estava frente-a-frente com meu irmão novamente.
-“Hm. Isso chega a ser ironicamente cômico.”, um cavaleiro ao meu lado comentou enquanto esperava outros dois cavaleiros enterrarem o corpo de Gleidi.
-“Muito bem, o seu é Rodrigo se não me engano. Tenho uma proposta para você. Essa vila a partir de agora é propriedade dos Averitans. Você e seu povo tem duas opções: me servem e transformam este lugar em uma cidade ou arrumam suas coisas e somem daqui.”, meu irmão disse em um tom bruto, eu nunca pensei que ele fosse falar assim com alguém.
Rodrigo olhou em volta e todos a sua volta acenaram a cabeça, efetivamente dando a ele o poder de decidir. –“O que você pretende fazer se nós aceitarmos ficar aqui?”.
-“Irei mandar mensalmente dez mil moedas de ouro para o desenvolvimento desta vila. Ela devera ser forjada em uma cidadela. Uma pequena companhia dos meus homens tomara residência permanente aqui para assegurar a segurança da vila. Meus homens irão recrutar mais pessoas e treina-las para serem cavaleiros. Além disso, você terá que me mandar uma carta a cada duas semanas com o andamento da situação. Se a sua carta e o relatório de meus homens não bater, eu virei pessoalmente verificar a situação.”, a proposta de meu irmão soava um tanto forçada, mas eu achava ela bem benevolente.
-“E se nós recursarmos e insistirmos em ficar aqui?”, Rodrigo perguntou com um olhar desafiador.
-“Vão todos morrer aqui e agora.”, meu irmão respondeu olhando de cima para baixo. Ele era uma cabeça mais alto que Rodrigo, e ele ainda estava com seu elmo, então isso dava a ele uma aparência assustadora.
Ao ouvir as palavras de meu irmão eu pude sentir o medo correndo por entre os moradores da vila. Aparentemente eles tinham a intenção de resistir e quem sabe apelar para a capital por alguma coisa.
-“Você não pode fazer isso!”, Rodrigo respondeu com indignação.
-“Não, eu não posso. Mas é o que eu vou fazer. Posso alegar que vim aqui socorrer a vila e encontrei todos mortos pelos nórdicos. Preferia não recorrer a esse método se fosse possível, mas eu não tenho problema nenhum em fazer uso dele.”, meu irmão respondeu com a voz seca.
-“Meu irmão faria isso?”, perguntei baixinho para um cavaleiro ao meu lado.
-“Talvez. O capitão não costuma fazer ameaças vazias.”, o cavaleiro respondeu enquanto acompanhava a negociação ao meu lado.
Rodrigo fechou os punhos e olhou para o chão. –“Quem garante que você não vai ser um senhor pior do que os nórdicos ou o antigo prefeito foi?”.
-“Nada. Vocês vão ter de confiar em mim. Apenas digo que se aceitarem, vocês terão uma melhora considerável. Além disso, este lugar vai ser erguido para fazer frente a capital. Eu irei mandar um engenheiro de confiança planejar toda esta área.”.
-“Tch... Parece que não teremos muita escolha... Nós aceitamos.”, Rodrigo respondeu enfim, fazendo um ar de alívio geral tomar conta do lugar.
-“Muito bem. Meus cavaleiros e o engenheiro chegarão em três dias trazendo a primeira leva de ouro. Contate seus melhores pedreiros e artesãos. A partir de agora a vida de vocês será bem ocupada.”, meu irmão se virou para os cavaleiros –“Iremos agora partir de volta para a capital. Jonathan, Andrey e Silvina, vocês ficam aqui até a guarda chegar. Após isso vocês voltam para a capital a toda velocidade.” , meu irmão comandou em voz alta e veio na minha direção.
-“Carol, como você está?”, ele me perguntou se curvando para ficar com o rosto na altura do meu;
-“Com um pouco de dor, mas nada demais.”, eu respondi de imediato. Não sei por que, mas eu me sentia nervosa quando meu irmão estava perto de mim de armadura.
-“Entendo. Nesse caso você irá voltar em uma carruagem. Você e seus colegas não estão na melhor das condições. O outro garoto perdeu um olho e a menina lá teve uma das mãos amputadas. A sua outra companheira já foi devidamente enterrada pelo que eu vi, sinto pela sua perda, mas era um risco a ser corrido.”, meu irmão tinha uma voz doce e atenciosa, diferente do comandante armado que estava a minha frente.
-“N-Não... Tá tudo bem. A Jenne e o Ed vão ficar bem... Só estou um pouco triste por que a Gleidi morreu de uma forma muito brutal.”, eu respondi meio encabulada.
-“Você se arrepende?”, meu irmão perguntou com a voz baixa.
-“Não. Foi necessário. Desde quando fugi de Sven a quatro anos e vi meus primeiros amigos morrerem nas mãos dos Lobos que eu não guardo esperanças de que todos possam ser salvos.”, eu respondi com a voz apertada.
-“Isso é muito triste Carol, mas é a realidade. Quando voltarmos eu irei te levar ao túmulo de nossos pais e te contar a verdade sobre a morte deles. A luta ainda não acabou.”, meu irmão se virou e começou a andar.
Fui levada para uma carroça puxada por dois cavalos fortes. Dentro dela estavam eu, Edward e Jenne. Edward estava quieto e constantemente colocava a mão sobre o olho perdido, Jenne ficava cutucando o lugar onde antes estava sua mão direita.
A viagem até a capital parecia que ia ser longa.
Capítulo 48 - O preço para a consciência
- Spoiler:
Os socos que uma carroça dá enquanto anda não são o melhor remédio para alguém que teve algumas costelas quebradas, mas era a única maneira de me transportar. Eu estava deitada olhando para o teto enquanto um silêncio fúnebre tomava conta. Eu não tinha coragem de falar nada para Edward e Jenne, então tentei dormir, apenas me perder em pesadelos.
Eu ficava vendo inúmeras vezes a morte de Gleidi na minha cabeça, e cada vez que a cena passava eu sentia uma agonia indescritível. Após certo ponto, eu comecei a ver os rostos de Samuel, Surlan e Thaís, que também morreram por minha causa. Embora eles estivessem vingados, suas mortes ainda me assombravam, e agora Gleidi fazia parte desse conjunto seleto de pessoas que conseguiam me fazer ter a consciência pesada.
Eu acordei e olhei para fora, já estava de noite e eu estava sozinha na carroça. Eu percebi que estava toda molhada de suar e havia algumas manchas de sangue ao meu redor. Eu tentei me levantar mas meus braços não tinham força o suficiente e a dor nas minhas costelas me fazia quase desmaiar. Eu me debati um pouco e chorei por causa da dor, mas ainda me recusava a desistir e continuar deitada. Foi então que meu irmão se aproximou com seu cavalo e entrou na carroça.
-“Francamente Carol, você está machucada e fica se debatendo. Se não fossem os barulhos da carroça eu não ia saber que você está acordada.”, ele me disse enquanto se aproximava de mim, -“Precisa de algo?”.
-“Eu estava tentando me levantar, mas essa dor maldita me impede. Além disso, eu estou toda suada e melada e acho que sangrei um pouco dos meus ferimentos.”, eu respondi em tom de reclamação.
-“Hm. Vamos ver então...”, meu irmão se aproximou de mim e pegou uma bacia com água que estava dentro da carroça, -“Você ficou com uma leve febre durante o dia. Seus colegas comentaram comigo que você estava delirando.”.
-“Eu? Delirando?”.
-“Sim. Você estava pedindo desculpas aos mortos. Quatro nomes em especial: Surlan, Samuel, Thaís e Gleidi.”, meu irmão pegou uma toalha e a molhou dentro da bacia. Após isso ele se aproximou de mim e enxugou o suor na minha esta com um pano seco. –“Se apoie em mim, vou te ajudar a ficar sentada.”, ele me disse enquanto levantava o meu corpo. Eu podia sentir o gelo das luvas metálicas dele.
-“Bom... Todos eles morreram por minha causa...”, eu comecei a falar.
-“Não. Todos eles morreram por escolha própria ou infortúnio. Nenhum te seguiu por obrigação, mas por vontade própria. Os outros dois que sobreviveram chegaram a essa mesma conclusão depois de ficar um tempo andando sob a luz da lua.”, enquanto falava, meu irmão removia as minhas vestes com cuidado e analisava as ataduras. Eu não respondi nada, mas isso me trouxe um pouco de paz de mente. Além disso, eu me sentia um pouco embaraçada de ter ele olhando para mim.
-“Estou vendo que você está ficando vermelha. Você não tem muita escolha Carol. A tal de Jenne perdeu uma mão, e os outros são todos homens... Acho que você prefere que seu irmão cuide de você a estranhos.”, ele me disse enquanto torcia a toalha que estava na bacia.
-“MAS ISSO NÃO FAZ SER MENOS EMBARAÇOSO!”, eu respondi com força. Dado o esforço acabei tossindo. Meu irmão fez uma cara de “o que eu faço com você?” e começou a esfregar o meu corpo. Eu estava com o braço esquerdo cobrindo os meus seios enquanto usava o direito para me apoiar no corpo de meu irmão. Senti meu rosto corando muito.
Meu irmão continuou seu trabalho em silêncio, mas eu podia ver que ele também estava corado até as orelhas. Ele passou a toalha por todo o meu corpo e depois virou o rosto e me entregou a toalha –“Não sou tão sem tato a ponto de passar a toalha no seu peito. Faça isso enquanto eu viro o rosto e te seguro com os braços.”, Ele usou as duas mãos para me apoiar enquanto olhava para cima. Eu peguei a toalha e tratei de limpar as partes que ele não tocou que incluíam o meu peito e a minha virilha. Após isso eu joguei a toalha de volta na bacia e voltei a cobrir o peito com o braço. Eu irmão se movimentou e ficou atrás de mim fez uma nova atadura nos meus ferimentos e trocou os lençóis em que eu estava deitada.
Após terminar ele se preparou para sair, mas ao ficar na borda da carroça, ele olhou para o céu e me disse: -“Carol, não se culpe pelas escolhas dos outros. Caso contrário, você vai acabar ficando louca. Eu não posso oferecer um conselho melhor pois eu sei o que você está passando, então só posso dize aquilo que eu tento fazer para não ficar afundado na depressão.”.
-“Hm. Obrigado mano. Ouvir isso de você me deixa mais tranquila.” Eu respondi com um sorriso forçado, pois a verdade era que isso ainda me perturbava.
-“Outra coisa... Você se tornou uma bela mulher. Acho que vou precisar tomar cuidados para impedir que você seja cortejada demais quando chegarmos na capital. Você com certeza tem mais corpo que a maioria das filhas dos nobres”, meu irmão olhou para mim com um sorriso provocador. Eu não tive resposta a não ser corar e virar a cara.
Capítulo 49 - Dança na corte real
- Spoiler:
Finalmente de volta a capital, eu fui levada de maca para a enfermaria da ordem e fiquei lá uns bons quatros dias. Meu irmão vinha me visitar todos os dias sempre que podia. Ele ficou atarefado depois que voltou pois tinha muitas explicações a dar e relatórios a escrever. Ele estacionou dois cavaleiros próximos ao meu leito para que eu não fosse perturbada e devo dizer que isso foi um pouco exagerado e me fez ficar solitária, mas acho que no fim isso só mostra o quão preocupado meu irmão é. Ele deve ser paranoico ao ponto de achar que vão atentar contra a minha vida em um leito de hospital.
Ao final do quinto dia eu fui liberada e pude enfim voltar ao quarto. Era um final de tarde e quando eu cheguei havia um vestido a minha espera. As empregadas diziam que eu havia sido “convidada” a participar da celebração que haveria no período da noite. Eu fiquei surpresa, mas as empregadas haviam dito que isso era coisa do príncipe e que meu irmão havia feito de tudo para arranjar uma desculpa para não ir, mas até agora nada havia dado certo. Eu perguntei qual era o problema e as empregadas foram categóricas ao dizer que a maioria dos convidados não gostava de meu irmão, pois ele era um simples barão que tinha influencias demais.
Partindo dos cavaleiros, os títulos de nobreza eram: Barão, Visconde, Conde, Marquês, Duque, Grão-duque, Arquiduque, Príncipe e por fim Rei. Meus pais eram barões por que o antigo rei dava valor ao trabalho deles, e meu irmão havia herdado o título. Eu fiquei sabendo que os nobres mais antigos, chamados de sangues-azuis, não aceitavam o fato de a minha família ser considerada parte da nobreza.
Isso me fez ficar meio apreensiva e pensativa. Além disso, desde que eu havia chegado à capital não tinha visto Edward e nem Jennepher. Eu me sentia um pouco esquecida. De qualquer maneira, as empregadas me ajudaram a me vestir e só depois eu fiquei sabendo que havia sido meu irmão que havia escolhido meu vestido. Ele havia selecionado um com tecido sobre os ombros que escondiam minha marca de escava e um sinto por debaixo da saia, para eu guardar meu punhal. Esse gesto dele me deixou mais feliz e mais preparada para ir ao baile.
Cerca de três horas depois do sol se por, meu irmão veio me buscar. Ele estava vestindo uma armadura cerimonial prateada toda lustrada que parecia um espelho. Ele estava com uma expressão emburrada, mas eu percebi que ele corou ao olhar para mim.
-“Quem te viu quem te vê Carol. Nossos pais iriam chorar rios se te vissem assim. Você está simplesmente magnífica. Pelo visto vou ter de ficar de guarda para impedir que os filhotes de nobre não venham te cortejar.”, ele disse em um tom tentando ser sarcástico, mas eu pude perceber que ele estava envergonhado.
-“Ui ui, que irmão ciumento que eu tenho! Papai estaria orgulhoso e chocado se visse isso agora!”, eu respondi enquanto ria. Meu irmão me olhou com uma cara irritada mas deixou passar e me ofereceu seu braço. Eu me aproximei dele e entrelacei meu braço no dele, e assim seguimos para o salão de festa no palácio real.
O palácio era imenso e majestoso, com todo o interior folhado a ouro. Havia referencias a cavaleiros e guerras em todo lugar. Bustos, armas em exibição, conjuntos de armaduras, quadros e outras coisas. No meio do caminho nós encontramos o Lorde Gomes e descobri que seu título era de Marquês, ele usava a alcunha de Lorde por que era mais fácil e menos pomposo, segundo ele.
Lorde Gomez foi gentil o suficiente para puxar conversa comigo e procurar me conhecer. Eu finalmente havia entendido por que meu irmão havia dado a lealdade dele a esse homem. Ele era uma pessoa que realmente se importava com quem estava a sua volta e realmente trabalha duro em prol de algo melhor. Meu irmão volta e meia se metia na conversa com algumas piadas sobre o meu passado que me fizeram corar, mas eu me vingava na mesma pedida beliscando o braço dele.
Após alguns minutos mais de passeio por entre os corredores, chegamos a um imenso salão repleto de pessoas bem vestidas. Homens com armaduras brilhantes e mulheres com vestidos extravagantes. Eu olhei em volta e percebi que o meu vestido era bem mais simples que o das mulheres em volta, mas bem mais pratico e mais fácil de movimentar. Assim que nós adentramos o salão, várias faces com expressões de nojo se viraram para nós. Meu irmão agiu com naturalidade e Lorde Gomez sequer notou. Apesar disso um grande número de jovens vinha na minha direção, mas todos eles pararam quando meu irmão tomou a frente e me escondeu atrás dele.
-“Se algum de vocês quiser chegar perto dela, vai ter de me vencer primeiro.”, ele disse em alto e bom som, e os jovens nobres ficaram ali olhando indignados. Eu realmente achei tudo aquilo um exagero, eu não era glamorosa como as outras mulheres no salão e nem toda requintada com as outras garotas nobres.
“Há há há há! Parece de assustar os molecotes Averitan! Desse jeito sua irmã vai ficar pra tia!”, um homem de armadura marrom se aproximou de nós com os braços abertos e um sorriso largo no rosto.
-“Eu não pretendo me casar também Land. E prefiro que minha irmã fique solteira do que casar com esses verminhos de sangue azul.”, meu irmão respondeu ao homem que se aproximava.
-“Ui. Quanto ódio nesse coração, lembre-se que eu tenho sangue azul também!”, o homem respondeu com um sorriso no rosto.
-“De fato, se você não tivesse me lembrado disso eu não teria notado. Você é insano demais para ser um nobre.”, meu irmão respondeu com um sorriso.
-“Mas você também é um nobre!”.
-“Só em título...”.
Meu irmão se virou para mim, que possuía uma expressão confusa no rosto –“Carol, este é um dos poucos nobres fora lorde Gomes que vale a pena conhecer: Conde Pedro Landovig du Bearia. O único idiota em todo o reino que pensou na ideia de usar ursos como montaria.”.
-“Mas quem deu a ideia original foi você, então você é um idiota maior!”, Pedro riu em voz alta enquanto se aproximava de mim e me dava um beijo no rosto. –“Isso é o máximo que posso fazer sem despertar a ira do seu irmão.”, ele disse no meu ouvido, -“Mas parecia que o Anderson não estava mentindo quando disse que a irmã dele era de uma beleza espetacular.”.
-“Oi Land, você está perto demais dela. Se afaste.”, meu irmão resmungou em voz alta.
-“Certo certo, calma ai. Não quero virar mais um nome na sua lista Lobo Prateado.”
Capítulo 50 - Agitação
- Spoiler:
Eu estava aproveitando bem a celebração, dado o ambiente. Vários cavaleiros de diversas ordens vinham cumprimentar meu irmão e o seu amigo Land. Todos os que vieram falar conosco perguntaram de mim e eu percebi que meu irmão lançava um olhar venenoso aqueles que pareciam estar interessados em me desposar.
Após uma hora de celebração uma jovem vestida com uma armadura marrom e com detalhes esverdeados se aproximou de nós. A armadura dela era idêntica à armadura de Land.
Ele foi o primeiro a vê-la e se apressou em apresenta-la a nós.
“Anderson, Carolina. Está é Veronica Jorge, Viscondessa da Terra dos Pinheiros e minha segundo em comando!”, ele tinha um tom alegre, mas eu não sabia se era pela bebida que havia ingerido até então ou se era por algum outro motivo.
-“Prazer em conhecê-lo Lobo Prateado, eu já ouvi muitas das histórias a seu respeito.”, Veronica nos cumprimentou com elegância. Ela podia ser um soldado, mas ainda era uma dama.
-“O prazer é meu Viscondessa De Pinheiros. Estou intrigado e gostaria de perguntar como o Land conseguiu alistar tão nobre dama em sua causa insana.”, meu irmão respondeu com um gesto formal quase que invisível. Eu fiquei imóvel com a pergunta de meu irmão e pude ver que Land também havia perdido a coloração do rosto.
-“COMO ASSIM você trata ela pelo título e eu que sou de nobreza maior sequer ganho um “Senhor” ou um “Vossa Graça” antes do meu nome!?”, Land respondeu exaltado.
-“Você é um pirralho insano que herdou o título do pai. A dama aqui é a primeira de sua casa a obter tal título, que conseguiu por proeza de combate.”, meu respondeu em um tom harmonioso, como se estivesse falando com uma criança.
-“Combate que ela só vivenciou lutando AO MEU LADO.”, Land buffou.
-“Isso é deverás verdade Lorde Averitan. Se lorde Landovig não tivesse se interessado pela minha proeza em combate e me colocado na linha de frente eu jamais teria ascendido ao título de Viscondessa.”, Veronica respondeu com um sorriso tímido, mas com a cadencia de um soldado.
-“Então você não tem sangue azul também? Isso explica por que todos os outros lordes estão olhando na nossa direção...”, eu olhei em volta e pude perceber vários círculos de nobres olhando na nossa direção e discutindo.
-“Oi Anderson... Isso poderia ser...?”, Land mudou o tom de voz de repente.
-“Talvez. Desde que eu entrei neste salão eu reparei nisso. Os guardas estão bem armados demais. E vários lordes vieram com armadura de combate. O rei ainda não apareceu e aparentemente todos aqueles que são “inconvenientes” para a nobreza estão no exato mesmo lugar... Aqui onde nós estamos.”, depois que meu irmão falou, eu observei que na nossa “área” estavam apenas Lorde Gomes, Dama Veronica, Lorde Pedro e meu irmão e eu. Eu havia ouvido rumores pelos corredores de que Lorde Gomes havia caído em desfavor com o resto dos nobres. Pelo que meu irmão disse, Land também não era muito bem visto pelos outros nobres e sua subordinada não devia ser também.
-“O que devemos fazer irmão?”, eu perguntei já com a mão na empunhadura do meu punhal.
-“Por hora, nada. Não devemos agir antes sem termos provas. Mas só por garantia... Land, se algo acontecer eu ficarei para conseguir tempo para você sair. Carol, você vai com ele.”, meu irmão disse em um tom seco.
-“Por quê? Eu não entendo...”, eu olhei para meu irmão, que estava de costas para mim como se bloqueando a visão dos outros nobres.
-“Se algo acontecer, apenas siga o que eu disse e vá com o Land. Pegue está carta e leia. Nela estará tudo explicado.” Meu irmão sacou três cartas e deu uma para mim, outra para o Land e uma terceira para Lorde Gomes.
-“O que é isso Anderson?”, Lorde Gomes perguntou enquanto se aproximava de nós e recebia sua carta.
-“Uma precaução. Meu “nariz” e meus “ouvidos” andaram captando algo de ruim e eu fiz alguns preparativos em caso de algo MUITO ruim acontecer. Por hora, eu apenas desejo que vocês confiem em mim e saiam daqui se algo acontecer... Que, aliás, eu acho que vai acontecer agora...”, meu irmão olhou para um grupo de nobres cercado por soldados se aproximando.
Última edição por Anderson "BK" em 22/12/2013, 9:07 pm, editado 10 vez(es)