Os exercitos estão formados, a liderança consolidada. Só resta agora agir!
Capítulo 60.2 - Duelo entre Cavaleiros, parte 2
Capítulo 61 - Para os campos
Capítulo 62 - Intervalo
Capítulo 63 - Cavalgando com o vento
Capítulo 64 - Memórias
Capítulo 65 - Preparação
Capítulo 66 - Nos campos
Capítulo 67 - Sangue e Aço
Capitulo 68 - Esforço valente
Capítulo 69 - Queda
Capítulo 70.1 - Reconquista, parte 1
Capítulo 70.2 - Reconquista, parte 2.
Capítulo 60.2 - Duelo entre Cavaleiros, parte 2
- Spoiler:
Eu estava sentada em um dos cantos da arena. Meus músculos estavam bem tensos e eu aproveitei para relaxar um pouco. Eu podia sentir os olhos em mim, me analisando, me julgando. Era uma situação desconfortável, mas eu precisava passar por isso.
Empunhei minha espada e meu chicote e me dirigi ao centro da arena. Ao longe eu já pude identificar meu oponente: uma mulher de cabelos dourados e uma espada de duas mãos. A espada estava com a ponta crava no chão e as duas mãos da cavaleira descansavam sobre a empunhadura da arma. Ela tinha uma expressão solene e eu percebi que ela não portava um elmo. Isso só podia significar duas coisas: ela era extremamente tola ou terrivelmente habilidosa, pois apenas os mais habilidosos e confiantes dos cavaleiros lutam sem elmos.
Eu me aproximei e coloquei meu elmo. Ela era uma cabeça mais alta do que eu e seus olhos castanhos estavam bem visíveis. Uma expressão gélida adornava o rosto da cavaleira. Ela tinha traços finos, mas eu podia ver algumas cicatrizes.
Seu nome era Miranda Satuy, e ela era capitã da terceira companhia de infantaria pesada dos novos cavaleiros. Ao sinal da bancada, nós começamos. Foi instantâneo, ela puxou a espada do chão e já tentou me atacar com um arco horizontal visando meu pescoço. Eu me adiante e desviei me abaixando, mas eu senti a força do golpe passar pelas minhas costas. A espada em si não era tão grande nem grossa como usada por outros cavaleiros, mas ela sabia usar a espada com maestria, pois após eu desviar de seu ataque, ela defendeu meu contra golpe usando o peso da espada e a inércia do movimento para saltar para o lado.
Ela mudou a pose luta em que estava. Ela havia colocado a espada nas costas e estava segurando a empunhadura.
Essa pose dava uma boa indicação de um golpe vertical, mas meus instintos diziam que Miranda não seria tão fácil de prever. Eu circulei pela esquerda, pois ela era destra e esse lado me dava mais facilidade de movimento caso ela fizesse outro ataque repentino. Para a minha surpresa, ela simplesmente saltou na minha direção e tentou me dar um chute que eu esquivei saltando para a direita. Eu saltei por reflexo, e esse foi meu erro, pois nesse momento ela golpeou com a espada um poderoso golpe vertical. Eu usei minha espada para refletir a espada dela, mas a força era tamanha que eu só consegui empurrar a espada a ponto de não me acertar diretamente. O golpe dela raspou no meu braço esquerdo e abriu um buraco no chão.
Miranda se afastou e mudou de posição, agora ela segurava a espada com a ponta próxima do chão. Esse movimento me fez perceber que a arma dela era bem pesada e por isso ela não podia fazer grandes movimentos como o de agora em sequencia. Ela usa o peso da espada para mudar a sua pose de combate, pois isso não exige tanto do corpo dela.
Perceber isso me custou à armadura do braço esquerdo, que foi arrancada com a violência do golpe. Meu braço estava com algumas marcas roxas e alguns pequenos cortes resultantes da violência com o qual a armadura foi arrancada.
Eu sentia meu braço formigar. Eu não tinha certeza se conseguiria usar o chicote assim. Eu investi contra Miranda com um plano meio insano. Golpeei a espada dela com a minha usando toda a força que meu braço direito tinha e o resultado foi que a ponta da espada dela afundou no chão, em seguida lancei o chicote mirando no cotovelo direito dela. A ideia era impossibilitar ela de erguer a espada. Miranda aparentemente deduziu minha estratégia e virou o corpo de forma que meu chicote se prendeu em seu braço esquerdo. Ela virou o corpo para a posição anterior e começou a puxar meu chicote com a mão esquerda. Eu podia ver o sangue escorrendo do antebraço esquerdo dela.
Miranda ainda mantinha uma expressão solene e não havia dito uma única palavra até agora, mas eu podia ver que ela estava sentido dor. Embora eu não tivesse conseguido selar o braço direito dela, eu havia tornado a situação dela, pois agora ela não tinha as duas mãos para conseguir a espada e se eu realmente estivesse certa, aquela espada era bem pesada para ela conseguir fazer alguma coisa sem usar as duas mãos.
Para a minha surpresa, ela tentou me golpear fazendo uma investida com a espada no chão. Eu golpeei a espada dela novamente com a minha e aparei o golpe. Mirada então largou a espada e correu na minha direção. Eu não tive tempo de reagir. Ela se aproximou de mim e golpeou meu abdômen com seu joelho, fazendo eu me curvar para em seguida me dar um soco com o punho direito. Eu perdi o balanço e cai no chão, soltando minha espada. Miranda pegou minha espada e tentou usa-la, mas eu puxei meu chicote com a mão esquerda e fiz com ela também perdesse o equilíbrio e caísse no chão. Usando essa deixa eu rolei na direção e lhe apliquei um chute no rosto, para em seguida colocar minha mão direita sobre seu pescoço e começar a estrangula-la.
Ela lutou e se debateu bastante mas eu estava confiante no meu aperto, além disso, eu estava pisando sobre o braço direito dela, ela não iria se soltar. No fim ela deu três tapas no chão indicando que se rendia.
Eu levantei exausta e segui para o meu canto da arena para descansar. Só depois eu ouvi que Miranda era muda e por isso não havia dito nada. Ela havia tido sua língua cortada quando era jovem e por isso não podia falar nada, e como os sons que emitia eram considerados grotescos por ela mesma, ela preferia ficar em completo silencio. Ela depois me mandou uma carta comentando a partida e elogiando o meu esforço e habilidade.
Antes que eu pudesse perguntar sobre meu terceiro adversário, o sino da cidadela começou a tocar e todos os cavaleiros correram para o portão da cidade, eu fui junto. Ao chegarmos lá, a guarda da muralha estava com todos os cavaleiros em prontidão e com arcos armados. Quando eu perguntei o que estava acontecendo, ninguém soube responder.
Alguns segundos depois um vigia do alto da torre gritou que um exercito estava se aproximando da cidadela e que tinha as bandeiras da capital. Todos os cavaleiros fizeram expressões sérias e correram para pegar suas armas. Eu fui atrás de um líder de esquadrão e por sorte achei todos eles reunidos. Eles estavam discutindo como dividir as tropas. Land e Gomes se aproximaram de mi, com Verônica logo atrás e nós nos metemos no meio do círculo dos líderes.
-“Bela hora para aparecer Averitan. O terceiro duelo vai ser adiado. Você vai se juntar as nossas linhas e ajudar a defender a cidade. Parece que a sua presença aqui fez a capital reagir com força. Eles enviaram praticamente tudo o que tinham!”, o líder mais velho disse.
-“De quantos estamos falando?”, eu perguntei.
-“Trinta mil lanças.. Nós temos apenas cinco mil lanças, e isso sendo otimista.”, ele respondeu.
-“Há! Glorioso! Eles têm cinco soldados para cada um dos nossos, essa vai ser uma batalha muito boa!”, um dos cavaleiros com cara de insano gritou.
-“Nós iremos mandar todos que podemos para o campo. Precisamos de gente aqui dentro para garantir que última linha esteja firme e...”, o velho não pode terminar de falar, pois os portões da cidade foram escancarados e um três cavaleiros de armadura negra adentraram a cidade e cavalgaram até parar na nossa frente.
Capítulo 61 - Para os campos
- Spoiler:
O cavaleiro negro a frente desceu do cavalo e começou a falar sem sequer se identificar e sem remover o seu elmo.
-“Eu trago noticias ruins meus caros. Aquele exército que ameaça seus portões não é o pior dos seus problemas. Há cerca de dois dias de caminhada, um conjunto de maquinas de cerco contendo aríetes e catapultas estão a caminho desta cidadela. O exercito que aqui está é apenas intimidação para um cerco. Como tal, eles estão carregados de provisões e não estão preparados para um embate, pois estão em marcha forçada desde que saíram da capital.”
Os líderes se entreolharam e observaram o mapa. Antes que eles pudessem fazer algo o mesmo cavaleiro já começou a soltar ordens: -“Pelo visto vocês algo em torno de cinco mil lanças certo? Destaquem mil dessas e mandem saírem pelo portão do rio que esta cidadela possui. Eles deverão dar a volta e atacar o comboio com as armas de cerco. Ele está protegido apenas pelo Lorde Anitelli e alguns homens da guarda real. Não devem contar mais de quinhentos homens. Com os quatro mil restante daqui, mandem uma centena preparar as catapultas que estão nas bases das muralhas que já devem estar prontas a essa hora. O restante vai para o campo conseguir tempo para que as catapultas sejam armadas e preparadas para disparar.”
Um dos líderes olhou com frieza e respondeu em um tom grosso: -“E por que deveríamos dar ouvidos a você?”.
-“Por que vocês não tem ideia melhor e até terminarem de discutir essa cidade estará em ruínas.”, o cavaleiro negro retrucou, calando o cavaleiro branco.
-“Você sabe bem da arquitetura dessa cidade...”, um segundo cavaleiro branco comentou com ar de desconfiança.
-“É óbvio que eu conheço. EU a mandei ser construída.”, finalmente o cavaleiro removeu seu elmo, revelando a faça pálida de meu irmão Anderson.
Os cavaleiros ficarão paralisados por um momento. Eu abri caminho entre eles e cheguei perto de meu irmão com o punhal dele em punho. Eu fiquei em posição de crava-lo na garganta dele.
-“É bom vê-la de novo irmã.”, ele disse com um tom agradável. Ele me abraçou com força e passou a mão em minha cabeça. –“Pelo visto valeu a pena eu ter lutado para me manter vivo, afinal posso ver seu rosto de novo.”, ele sorriu e então olhou para os demais. – “Estão esperando o que para se mover? Se algum de vocês tem um plano melhor é melhor falar logo!”.
Os cavaleiros saíram de seu estado de confusão e começaram a se mover. Meu irmão olhou para os outros dois cavaleiros negros e disse: -“Eduardo, vá falar com o Rodrigo e vá organizar os cavaleiros que irão atrás do comboio de armas de cerco. Você está encarregado de guia-los até lá.”. Edward desceu do cavalo e caminhou até o centro da cidade. Ele carregava uma espada de duas mãos nas costas, então eu ponderei se era o mesmo Eduardo que eu conhecia.
-“Takumu, eu quero você lidando com as catapultas. Vá para as torres e procure o Sargento Vimorei. Repasse o plano para ele e ele saberá o que fazer, ajude-o no que for necessário.”, o outro cavaleiro desceu do cavalo e seguiu para a torre mais próxima para subir a muralha.
-“Irmão... Esse Eduardo que veio com você por acaso é...”, eu indaguei.
-“Sim, aquele que andava com você. Eu o encontrei vagando pela capital depois que eu consegui escapar dos nobres. Depois de um tempo conversando ele aceitou vir comigo em busca de um sentido para a vida dele.”.
-“Alias, vale a pergunta... Como raios você saiu vivo daquilo? Eu não quis acreditar nem pensar a respeito, mas a certeza de que você estava morto estava começando a pesar na minha cabeça.”.
-“Eu diria que uma série de eventos muito afortunados aconteceram comigo, mas contar isso fica pra outra vez. Devemos nos focar no nosso dever. Carol, quero que você vá com Eduardo. Eu posso ver que você não está em plenas condições para lutar em uma parede de escudos.”.
Eu pensei em argumentar, mas meu irmão continuou, -”O time que vai atacar o comboio vai sair só amanhã. O grupo que vai para os campos vai sair agora. Você não vai aguentar ficar de prontidão até tudo isso acabar na parede de escudos.”.
Essencialmente, o time que ficará no campo Irá sair e batalha o máximo que puder para dar a impressão de não saber da estratégia do inimigo até ser tarde demais. E meu irmão podia deduzir o meu estado apenas por me olhar. Eu estava com a armadura suja e uma expressão exausta, então acho que o julgamento dele Fo acertado. Além disso, eu precisava conversar com Eduardo.
Capítulo 62 - Intervalo
- Spoiler:
Após a conversa com meu irmão, eu fui para as barracas onde Eduardo estava. Eu o encontrei conversando com Rodrigo com uma expressão leve. Senti-me mal por interrompê-lo, mas eu tinha de falar com ele.
-“Eduardo... Posso falar com você por um momento?”, eu tentei ser o mais cortês possível, pois eu não sabia o que esperar.
Ele se virou e me olhou e acenou com a cabeça. Ele se despediu de Rodrigo e nós fomos para um canto menos barulhento das barracas.
-“Você provavelmente veio-me dizer que vai vir comigo no ataque ao destacamento que possui as armas de cerco não?”, ele me perguntou antes que eu pudesse dizer algo.
-“Sim, como você sabia?”.
-“Sei irmão me disse que iria te remanejar para ficar comigo. Sem mencionar que eu já imaginava que você iria querer falar comigo. De qualquer forma, basta estar a manhã de manhã no portão do rio que iremos partir. Teremos dois dias conversar. E eu acredito que temos muito o que conversar.”, ele concluiu com um sorriso e me deu um tapa no ombro antes de seguir com suas tarefas. Eles direcionando os cavaleiros que iriam formar o destacamento de ataque, e tinha de cuidar de provisões, montarias e todo o resto. Para alguém que havia acabado de chegar, ele estava fazendo um trabalho de profissional. Sem mencionar que os cavaleiros estavam prestando atenção ao que ele dizia. Isso me fez ficar com um pouco de inveja.
Quando sai das barracas vi um número imenso de cavaleiros se mobilizando. Eles estavam todos armados com armadura completa e marchando com uma ordem incrível. Foi nesse momento que me lembrei de que meu irmão disse que os cavaleiros iriam partir para o campo imediatamente. Eu tentei localiza-lo na massa, mas não consegui. Senti meus braços arderem um pouco e pude ver um pouco de sangue escorrendo deles. Resolvi ir até a enfermaria para preparar alguns curativos, e ao chegar lá encontrei os cavaleiros com quem havia duelado. A princípio eu esperava um ambiente hostil, mas eles me receberam amistosamente.
Ravers estava com algumas ataduras no torso e nas pernas, enquanto Miranda estava deitada com o corpo coberto. Foi nessa hora que fiquei sabendo da história de Miranda e de Ravers. Miranda era serva de uma família nobre que tinha algumas práticas deturpadas. No caso, eles haviam arrancado a língua de Miranda e cortado sua garganta. Felizmente ela conseguiu sobreviver ao corte e conseguiu buscar ajuda para se vingar. Após isso ele buscou abrigo com os cavaleiros e um dos lordes a aceitou e a treinou.
Ravers por outro lado era apenas um vagabundo que tinha uma mente afiada. Ele era um ladrão comum até ser pego pela “polícia templária” e ser duramente torturado. Em um dos muitos julgamentos públicos realizados na capital, Ravers foi a júri público e foi condenado a servir os cavaleiros brancos para compensar seus crimes. Ele agradeceu ter sido liberado dos templários, mas se arrependeu de ter caído nas mãos dos cavaleiros, pois um pesado treino marcial e etiqueta fizeram-no sofrer. Como cavaleiro, ele tinha uma boa renda e não pensava mais em voltar a roubar. Felizmente ele também era mais esperto que a maioria e por isso usava táticas arrojadas para lutar, e isso lhe atraiu atração do alto escalão.
Enquanto eu ouvia Ravers contar a história de Miranda e sua própria, uma das enfermeiras se aproximou e começou a cuidar de mim após uma rápida explicação. Ela removeu minha armadura e arranjou uma cama para que eu deitasse próxima a Ravers e Miranda. Ravers continuou falando sobre diversos tópicos até meu tratamento terminar. Não era nada muito sério, só recebi algumas bandagens nos meus braços e alguns curativos em outros pontos. Despedi-me de Ravers e Miranda e fui atrás do ferreiro para consertar minha armadura.
Nesse momento eu ouvi o som do trovão metálico ecoar por toda cidadela. Eu conhecia aquele som... Dois exércitos haviam entrado em combate. Senti meu coração apertar e tentei me focar nos meus objetivos de agora. Corri para o ferreiro e fiquei um pouco chateada a ver que minha armadura estava pior do que eu imaginava. Segundo o velho e músculo ferreiro, minha armadura não prestava mais e eu deveria conseguir uma nova. Quando eu disse que eu não tinha dinheiro, ele me disse que alguém já havia deixado um conjunto de armadura no meu nome mais cedo. Ele foi ao fundo da ferraria e trouxe um pesado embrulho. Ao abri-lo eu me deparei com uma armadura média de aço tingido com a cor preta. O ferreiro comentou que todas as armaduras agora seriam tingias de preto e deveriam de seguir o molde dessa armadura que ele estava me dando. Eu agradeci e levei a armadura para meus aposentos temporários apenas para descobrir que eu havia sido despejada e jogada para a barraca dos comandantes.
Depois de arrastar minha armadura nova por toda a cidadela, eu cheguei na barraca, que era mais uma mansão, dos comandantes. O porteiro pediu minha identificação e após confirmar quem eu era, me levou até me quarto. Havia uma pequena carta escrita as pressas sobre a minha mesa. Era endereçada a mim e havia sido escrita pelo conselho dos comandantes dos cavaleiros brancos. Nela eles reconheciam minha habilidade e, relutantemente, iriam me conceder o posto de comandante de batalhão. Eles não me promoveriam a comandante geral por que eu não havia vencido o terceiro duelo. Após ler a carta eu resolvi tomar um banho pois eu estava imunda e suja. Ao sair eu percebi que já estava de noite e por isso resolvi tentar dormir, pois no dali algumas horas eu iria sair para mais uma luta e iria encontrar algumas respostas através de Eduardo.
Capítulo 63 - Cavalgando com o vento
- Spoiler:
Acordei com uma das escudeiras me acordando. Fiquei surpresa a principio, mas elas rapidamente deixaram claro que, como uma líder, eu deveria ter escudeiras para ajudar a manter meu equipamento e me ajudar em algumas tarefas. Perguntei por que eu nunca via os outros comandantes com seus escudeiros e elas disseram que era por que os escudeiros ficam fora de vista. Eles ficam treinando até serem honrados com o título de cavaleiro.
Minhas escudeiras se chamavam Alexandria e Anastásia. Ambas eram minhas escudeiras por indicação de meu irmão que havia trazido elas da capital. Ambas eram mais velhas que eu, o que dava um ar meio desconfortável, especialmente por que eu me sentia uma criança quando comparava o meu corpo com o delas.
Eu me levantei e elas me ajudaram a colocar a minha armadura negra e me trouxeram as minhas armas. Fiquei surpresa que elas estavam afiadas e após lançar um olhar inquisidor para minhas servas, elas confirmaram que as afiaram durante a madrugada. Elas não haviam tocado no meu punhal por que ele sempre ficava comigo, mas as outras armas não estavam ruins, eu diria até que elas eram tão boas quanto eu em afiar as armas. Eu desci para a cozinha com as duas me seguindo de perto onde peguei duas fatias de pão e um pouco de queijo para comer.
Outros comandantes estavam na cozinha se servindo e me lançaram olhares diversos, eu os ignorei e segui em frente. Segui na direção dos estábulos e Anastásia me disse que um cavalo já havia sido preparado para mim. Eu acenei a cabeça confirmando que tinha ouvido e perguntei como estava o a batalha dos lados de fora. Alexandria me informou que após o primeiro embate, o exército da capital havia perdido muitos soldados e por isso havia resolvido tomar uma postura mais cautelosa. Por isso a madrugada havia sido tranquila e sem maiores incidentes tirando um ou outro embate. As duas paredes de escudos continuavam de pé e encarando umas as outras.
Encontrei Eduardo nos estábulos conversando com uma das cuidadoras dos cavalos. Eu pude ver que ela estava corada, então podia imaginar que Eduardo estava flertando com ela.
-“Eduardo, se você tem tempo para flertar, poderíamos sair mais cedo não?”, eu entrei sem olhar para a jovem garota.
-“Estava apenas me certificando da qualidade e do cuidado com que os nossos cavalos são cuidados comandante.”, ele me respondeu sem perder a pose.
-“Comandante é? Sabe-me dizer onde estão os outros?“, eu perguntei um pouco frustrada por não conseguir desmontar a pose de Eduardo.
-“Estou montando a formação lá fora. Aguardando você eu imagino”, ele sorriu enquanto montava em seu cavalo e trotava velozmente para fora.
Eu montei no meu cavalo. Anastásia me entregou meu elmo e ficou me olhando. Eu nunca havia tido servas então não sabia o que dizer a elas. Então inventei a primeira coisa que me veio à mente.
-“Quando eu retornar, vocês estariam interessadas em ter uma prática comigo e com meu irmão?”, ao terminar minha frase, vi os rostos das duas se iluminar e então tive certeza que as duas ficaram satisfeitas.
Trotei rapidamente para alcançar Eduardo e vi que o clima estava chuvoso e tendendo a neblina. Ao sair da cidadela, vi toda a legião que iria cavalgar comigo. Eduardo estava a frente dos cavaleiros e sinalizou para mim.
-“Eles estão sob seu comando, apesar do seu esquadrão ser menor, a autoridade toda aqui pertence a você.”, ele me disse com a voz baixa. Eu fiquei seriamente desconfortável com isso.
-“Muito bem então, mas você que sabe o caminho, então guie.”, eu disse com a voz baixa.
-“Primeiro de o comando de marcha, “comandante Averitan”.”, eu percebi um pouco de ironia no comentário dele.
-“Cavaleiros, EM FRENTE!”, eu tentei parecer imperial e dei o toque para meu cavalo partir, felizmente toda a coluna de cavaleiros me seguiu sem grandes problemas. Eduardo emparelhou do meu lado, e o olhei com frieza e lhe disse para contar tudo que ele sabia.
Capítulo 64 - Memórias
- Spoiler:
Estávamos cavalgando com pressa através das clareiras da floresta e o tempo dava a impressão de que fechar ao final da tarde, por isso tentamos cobrir o máximo de distancia que podíamos antes da chuva chegar. Cavalgar de baixo de chuva não era produtivo e cansava os animais mais do que o normal.
Eduardo manteve-se calado durante toda a corrida, pois era difícil manter uma conversa a galope. Quando nós montamos acampamento perto de uma clareira próxima a saída da floresta, eu agarrei Eduardo pelo colarinho e o arrastei até um lugar onde podíamos conversar sem interrupções.
-“Então, o quer saber?”.
-“Que pergunta idiota! Eu quero saber tudo! Como raios meu irmão escapou dos nobres, como encontrou você e como te colocou a serviço dele!”.
Eduardo então me contou que embora ele não soubesse dos detalhes, aparentemente meu irmão havia escapado pouco depois de nós. Ele saltou de uma janela no segundo andar e aterrissou em alguns arbustos que amaciaram sua queda. Depois disso ele escapou pelos becos e ficou escondido lá. Aparentemente os espiões mantiveram uma rede de contatos atenta e isso fez meu sumir por alguns dias. Nesse tempo os nobres mataram algum pobre coitado e tentaram passar a imagem que meu irmão estava morto.
Dias depois meu irmão encontrou Eduardo jogado as traças e um beco, ferido e sangrando. Ele me disse que havia recusado a oferta de vir atrás da minha cabeça, pois ele não me culpava pela morte de Gleidi. Meu irmão o encontrou e o levou até uma base de espiões dentro da capital, de onde ele tirava toda a informação que precisava e retornava após realizar vários ataques a construções controladas pelos nobres. Meu irmão começou a vestir a armadura negra naquela época e usando a alcunha de “cavaleiro negro” assassinou vários nobres e suas famílias, fazendo o medo rondar pela capital, pois os cavaleiros brancos que agiam como polícia haviam debandado para o lado do meu irmão ou sido mortos por ele durante as rodas nos becos. Ele foi particularmente eficiente em matar aqueles que se opuseram a ele durante os dias nas barracas dos cavaleiros brancos, como Jeofrey Hunecraster. Esse em especial teve uma morte lenta e seu corpo foi encontrado despedaçado.
Todos os cavaleiros que seguiam meu irmão foram mandados para a cidade que ele estava construindo. Eram poucos a principio, mas depois de algum tempo se tornaram numerosos a ponto de serem considerados um exercito. Os espiões conseguiram informações importantes como a aliança que a regência dos nobres fez com os reinos do sul em troca de tropas. Os sulistas haviam enviados vários batalhões para suprir a falta de exercito dos nobres. Meu irmão e seus espiões fizeram estragos atrás de estragos nas operações logísticas desse exercito forasteiro. Nesse meio tempo, Eduardo foi treinado como um agente especial, sendo capaz de lutar de se esgueirar como um espião. Ele também sobre a arte da guerra (coisa que eu não tive muito tempo para aprender) e depois de semanas já estava ajudando a sabotar os nobres. A população ficou neutra nesse assunto, pois nenhum alvo civil fora acertado.
As coisas complicaram quando a segurança foi aumentada e os espiões descobriram planos de atacar a nova fortaleza na fronteira. Meu irmão decidiu que era voltar e enfrentar o exercito estrangeiro no campo, mas ele ficou sabendo tarde demais de que armas de cerco haviam sido trazidas também. Por causa disso, ele resolveu sair pessoalmente levando Eduardo e Takumu, que eram seus melhores agentes. Durante o trajeto ele contou o plano feito as pressas para lidar com a situação.
Após isso eu e Eduardo ficamos conversando sobre coisas mais particulares e que não são importantes para a história.
A chuva parou na madrugada do dia seguinte. Na mesma hora nós montamos os cavalos e voltamos a marchar. Pelas contas de Eduardo, o exercito inimigo estava a algumas horas de marcha. Lembrando-me dos ensinamentos de Lorde Gomes e Pedro, resolvi levar meu exercito para um lugar onde teríamos alguma vantagem. Avançamos um pouco e nos posicionamos atrás de colinas que davam direto na planície por aonde os inimigos viriam. Ainda tínhamos algumas horas, então mandei os homens se preparem. Vi que alguns deles usavam arcos então tive uma ideia que talvez fosse definir a nossa vitória.
Capítulo 65 - Preparação
- Spoiler:
Ainda faltavam algumas horas até que o exercito com as armas de cerco passasse por onde eu estava com o meu destacamento. Chamei os líderes de esquadrões e tentei traçar uma estratégia.
-“Quantos de vocês tem cavaleiros que saibam atirar de cima de um cavalo em movimento?”, apenas um comandante ergueu a mão. Ele tinha cerca de cem cavaleiros arqueiros. Eu pedi para que ele os separasse em duas unidades que ficariam atravessando o campo de batalha perturbando o inimigo e caçando aqueles que fugissem.
-“O resto dos arqueiros eu quero que fique no chão.”, minha ideia era dividir os arqueiros em três grupos. Um atrás da linha de frente e dois pelos flancos. Eu não podia deixar nenhum inimigo fugir, então precisava ser minuciosa.
-“Na linha de frente comigo, quero cerca de seiscentos homens na parede de escudos. Quero que eles tenham a esperança de podem nos vencer e tentem nos engajar em batalha.”, os demais ficariam escondidos dando cobertura aos arqueiros. Embora a luta fosse em uma planície, isso não significava que ela não tinha espaços para que os homens pudessem se esconder, além disso a floresta estava bem próxima. Ela podia servir para acobertar o exercito.
-“Quantos cavaleiros pesados nós temos?”, eu olhei procurando um comandante, e minha surpresa não foi maior ao ver lorde Gomes se apresentar.
-“Décimo quinto batalhão de cavalaria pesada se apresentando.”.
-“Quantos cavaleiros você tem Lorde Gomes?.”
-“Todos menos o meu ponta de lança que ficou na cidade liderando o exercito, ou seja, cento e noventa e nove cavaleiros”. O cavaleiro que faltava era meu irmão, eu presumi.
-“Quero que você e seus cavaleiros deem toda a volta pelo campo de batalha e ataquem as armas de cerco, melhor dizendo, aqueles que a estiverem usando e protegendo. Após isso, quero que você ataque o flanco do inimigo que eu e a infantaria estaremos segurando.”, tentei deixar minhas ordens simples por que sabia que ordens simples são bem mais fáceis de serem seguidas e deixam os soldados confiantes de que podem se adaptar a situação como bem entenderem. Eles eram os veteranos aqui, não eu.
-“Alguma pergunta?”, nenhuma mão se levantou.
-“Para as suas posições!”, nós tínhamos uma força que teoricamente tinha dois homens para cada um deles. Isso era um bônus e um problema, pois se o oponente soubesse dos nossos números provavelmente enviaria um relatório a capital e isso os deixaria alertar e talvez os fizesse enviar novas unidades. Eu imaginava que a força inimiga fosse realmente de setecentos homens por que eles deveriam ter algumas unidades para proteger as armas de cerco. Minha intenção era de atiçar o inimigo, ao fazê-lo pensar que nós estávamos ali por desespero para evitar que eles chegassem ao nosso forte e que nós havíamos ficado do lado de fora.
Outra preocupação minha era sobre as armas de cerco inimigas. Além de armas para derrubar edificações, eu havia tomado conhecimento de armas que eram feitas para derrubar infantaria. Conhecidas como escorpiões, eram como se fossem bestas gigantes que disparavam um imenso dardo de ferro puro com uma ponta de aço afiada para atravessar linhas das paredes de escudos e matar um cavaleiro e seu cavalo com um único tiro. Eu queria tomar controle dessas armas ou destruí-las, pois essas armas poderiam fazer o número superior do meu destacamento perder a vantagem.
Após cerca de meia hora, eu pude ver os batedores inimigos no horizonte. Eles viram aquilo que eu queria que vissem. Um exército de cerca de seiscentos homens se preparando para lutar. Eu deixei o batedor voltar e relatar isso para o inimigo, pois eu estava bem no caminho deles e queria que eles viessem lutar conosco. Eu me juntei a parede de escudos e esperei.
Eu estava portando uma espada curta, pois espadas longas são ruins de manejar no ambiente apertado da parede de escudos. Uma espada curta era rápida e podia ser letal. Eu tomei minha posição bem ao meio da primeira fileira, pois eu queria que o inimigo soubesse quem iria enfrentar. Pelo que eu havia ouvido de Eduardo, eu possuía alguma notoriedade entre o inimigo e possivelmente era um prêmio e uma isca para atrair um peixe maior, meu irmão.
As linhas inimigas apareceram no horizonte algum tempo depois. Eram vários guerreiros com armaduras que eu não havia visto antes. O emblema em seus escudos também me era estrangeiro, o que significava que eles eram de fora do reino. Na frente da linha inimiga eu vi um cavaleiro de armadura prateada brilhando reluzente no sol da tarde. Eu reconhecia aquela armadura, era Anitelli.
-“Estou com a impressão de que o dia será longo.”, eu resmunguei baixinho.
Capítulo 66 - Nos campos
- Spoiler:
Em uma guerra, informação é algo tão importante quanto um batalhão de veteranos bem equipados. Saber onde seu inimigo está e qual o seu número, quem é seu comandante são informações que podem virar o destino de uma guerra. Assim sendo, enviar informações falsas é algo que pode virar as chances ao seu favor ou contra você.
Eu não precisava nem contar os soldados, só de ver as linhas inimigas no horizonte eu percebi que nós havíamos recebido informações falsas. O inimigo não tinha os ditos quinhentos soldados, mas sim cerca de mil e quinhentos fora os não combatentes. Eu praguejei em voz baixa ao ver as linhas compactas e bem disciplinadas do meu inimigo.
Quando dois exércitos se encontram, diz-se que é de praxe os comandantes se encontrarem para tentar negociar uma solução pacifica, mas isso é apenas uma formalidade idiota que é usada para que os comandantes troquem insultos de graça para atiçar os exércitos. Aparentemente Anitelli queria seguir a boa prática, pois ele estava montado no meio da planície com o escudo de cabeça para baixo com um ramo pendurado, indicando que queria conversar. A honra dos cavaleiros impede-os de atacar um inimigo que vem falar de paz, mas isso não se aplicava a mim.
Devo admitir que fiquei muito tentada a pegar uma besta e atravessar o peito de Anitelli com um dardo. Mas fui obrigada a deixar meu pensamento de lado quando me trouxeram um cavalo e percebi os cavaleiros me olhando.
Eles só aceitariam meu comando se eu seguisse o que manda o código de conduta deles. Meio a contragosto eu montei no cavalo e fui me encontrar com o cavaleiro de armadura prateada reluzente.
Assim que me aproximei, Anitelli desceu do cavalo e me esperou na frente do mesmo. Eu segui o exemplo e estava frente a frente com ele. Ele parecia ser mais alto do que me lembrava, ele era cerca de uma cabeça e meia mais alto que eu pelo menos.
-“Da ultima vez que te vi você só tinha quatro companheiros Carolina Averitan. Pelo visto os desertores da ordem dos cavaleiros brancos dobraram o joelho para você.”.
-“E da última vez que eu te vi sua armadura não reluzia tanto. Eu poderia atravessar seu peito com um tiro de besta a pelo menos um dia de distancia do tanto que sua armadura brilha.”.
-“Essa é a diferença entre o prata e o cinza, o brilho. Mas diga-me, o que faz aqui fora com esse grupo pequeno de cavaleiros sem senhor?”
-“Quem sabe? Você me parece alguém inteligente, por que não me diz?”.
-“Ah, manobra esperta. Você espera que eu revele as informações que tenho para validar as suas. Se eu fosse um imbecil sem cérebro eu provavelmente teria caído em tal ardil. A questão aqui é se você por acaso sabe o que está fazendo aqui? Você veio aqui esperando um contingente bem menor e encontrou três vezes mais soldados, o que você vai fazer?”
Eu praguejei baixo. Ele estava ciente de que eu havia vindo a campo com uma informação errada.
-“Então eu estou aqui, com setecentos homens contra os seus mil e quinhentos em um campo aberto. Qualquer imbecil saberia que é uma batalha perdida, mas eu não sou uma imbecil qualquer não é? Por favor, não me diga que você acha que pode me fazer recuar se pedir com jeitinho!”.
-“Se fosse o seu irmão, ele provavelmente aceitaria um acordo que poupasse os soldados dele para lutar em outro dia.”.
-“Se eu fosse o meu irmão... Já ouvi essa frase mais do que gostaria! Advinha só, eu NÃO sou meu irmão, então você pode pegar os seus trejeitos educados e o seu requinte de cavaleiro enfiar no meio de um monte de bosta de vaca! Pode voltar lá para os seus soldados estrangeiros e dizer que eles vão lutar aqui e que podem até ganhar, mas que o sangue deles vai manchar o chão desta terra de uma forma que eles não sonham!”.
Com isso eu montei novamente, virei o cavalo e sai a galope a toda velocidade de volta para minha parede de escudos. Eu queria que ele pensasse que eu era uma iletrada imbecil que só sabia lutar e que ficasse confiante com isso, mas eu sentia em meu âmago que Anitelli era um comandante frio e calculista. Meu ato de bravura não influenciaria seu julgamento, mas ao menos ele se sentiria tentado a me enfrentar.
Ao retornar a minha parede eu ergui minha voz o máximo que pude para alcançar todos os homens que estavam ali comigo.
-“Nosso inimigo fez troça de nossa determinação e exigiu que saíssemos do caminho como mendigos em uma rua! Isso não vai ficar assim! Nós iremos mostrar a esses estrangeiros o poder da ordem dos cavaleiros! Nós iremos mostrar a eles que nós não somos meros milicianos armados com foices e enxadas! AVANÇAR!”.
Os cavaleiros rugiram e bateram suas armas nos escudos e eu pude ouvir o trovão de metal ecoar pela planície. Aqueles cavaleiros podiam até saber que tudo que eu falei era mentira, mas eles precisavam desse reforço moral para encarar o inimigo. Lutar na parede de escudos significava cortejar a morte e isso é algo que homens com moral baixo não fazem.
Eu desci do cavalo e empunhei meu escudo e com isso a parede começou a marchar, armas batendo nos escudos fazendo cada passo soar como uma tempestade estivesse aproximando.
Talvez fosse impressão minha, mas aparentemente os inimigos pareciam confusos. Eles não entendiam o que o nosso gesto significava, mesmo assim eles marcharam em nossa direção enquanto seus arqueiros soltavam as primeiras flechas.
-“ERGUER PAREDE!”, eu gritei e uma parede de ferro, madeira e cobertura de couro se ergueu para bloquear o ataque inimigo.
-“EM FRENTE!”, nós continuamos marchando. Estávamos mais devagar, mas continuávamos avançando. Eu sabia o que Anitelli estava fazendo, ele queria conseguir tempo para usar os escorpiões em nós. Nós estávamos a cerca de vinte metros da linha inimiga e na velocidade que seguíamos, seriamos mortos antes de fazer contato.
Eu esperei a saraivada de flechas passar. Precisava agir agora.
-“BAIXAR ESCUDOS! ATACAR!”.
Os homens se levantaram e correram como cavalos selvagens na direção do inimigo. A parede inimiga ergueu suas lanças e nos aguardou. Quando estávamos a meros metros distancia eu dei uma nova ordem.
-“ERGUER ESCUDOS!”.
E com isso nós paramos na frente da linha inimiga, bloqueamos a chuva de flechas e estávamos perto demais para que os escorpiões não causassem dano colateral.
-“COMPANHIA ATACAR!”, eu ouvi o comando vir da linha de trás. Anitelli não estava na parede de escudos. Ele estava em se cavalo, ao fundo dando ordens. Eu praguejei de novo, pois eu não teria chance de mata-lo na parede.
Capítulo 67 - Sangue e Aço
- Spoiler:
A parede inimiga avançou e os escudos se chocaram. O som foi alto e grave, forte o suficiente para ecoar por toda a planície. Os inimigos usavam escudos estranhos e somente agora eu entendia o por que. Ao olhar no rosto do soldado que estava a minha frente, percebi que ela era do sul. Não do sul imediato a capital, mais além, nas terras onde o chão é amarelo e o sol queima com intensidade. Eu nunca havia visitado essas terras, mas a conhecia por que assim me foi ensinado.
Eles tinham uma pele mais escura e algumas de suas feições eram mais acentuadas. Eu podia reparar nisso, pois suas armaduras cobriam seus corpos de forma diferente. Enquanto nós do norte usávamos cota de malha e armaduras para cobrir todo o corpo com metal, os sulistas de pele bronzeada usavam metal apenas no alto peitoral cobrindo os ombros e nas canelas. O resto do corpo era protegido por tecido e couro. Eu descobri isso no instante em que finquei minha espada curta na barriga do infeliz que estava na minha frente. Na parede de escudos você luta quase sempre olhando para baixo e para frente, procurando uma brecha nos escudos inimigos. Por isso normalmente os golpes são desferidos na barriga e na virilha.
Os escudos dos inimigos eram redondos e pequenos, enquanto que os nossos eram retangulares e compridos, conhecidos como escudos torre. Por isso foi fácil defender o ataque da espada curva que os sulistas carregavam. Eu aproveitei um ataque que bateu no escudo do cavaleiro ao meu lado para gravar a espada na barriga do sulista a minha frente.
Na parede de escudos você consegue saber quanto você matou o inimigo. Se o golpe acertar o metal e não furar, você sente a ponta da espada escorregar, mas quando ela atravessa você a sente perfurando fundo. Ao puxar a espada, se a ponta estiver com sangue você tem a confirmação do óbito. No meu caso, a espada foi tão fundo que eu fiquei surpresa. Ela entrou com facilidade e quando eu puxei ela veio com metade da lâmina ensanguentada.
Eu ergui a cabeça e vi os olhos do sulista embranquecerem. Ele caiu de lado e lá ficou enquanto eu recuava e erguia meu escudo, pois no mesmo instante um golpe veio na minha direção e homem que estava atrás do que eu acabei de matar havia tomado seu lugar. A parede de escudos é essencialmente uma fila. Quando a cabeça da fila morre, o próximo toma o seu lugar.
Foi então que a chave na minha cabeça que controlava o que eu pensava desligou r a chave que liberava meus instintos assassinos ligou e eu lutei por reflexo. Cada homem que tomava a cabeça da fila na minha frente morria pelo mesmo padrão. Eu defendia o ataque, dava um passo em frente, estocava, puxava a lamina até a altura do peito e depois puxava. Quando eu voltei a pensar de novo, já havia uns oito corpos na minha frente e o inimigo não estava mais avançando. Eu olhei rapidamente para os lados e percebi que nossos flancos ainda estavam de pé. Havíamos perdidos alguns cavaleiros, mas a nossa parede ainda estava sólida. Eu bati minha espada no meu escudo e gritei, xinguei e praguejei para os inimigos viessem para mim. Eu gritei que lhes daria a morte e que depois disso seus amigos iriam se juntar a eles. É interessante notar que quando estamos no êxtase do combate nós falamos muita besteira.
O problema é que Anitelli parecia ter tomado ciência do meu plano, pois ele havia mandado dois destacamentos para cima dos meus arqueiros que estavam nos flancos e que haviam aparecido para alvejar as linhas inimigas.
Eu virei a cabeça rapidamente e tomei a decisão que me parecia mais óbvia: mandei as filas de trás da minha parede irem reforçar os arqueiros. Perdi cerca de quarenta por cento da grossura da minha parede, mas eu tinha de tentar salvar aqueles arqueiros, eles seriam a chave para transformar essa batalha numa vitoria.
O problema foi que um dos meus destacamentos de arqueiros já havia sido destruído e eu só percebi isso quando tropas inimigas vieram pelo flanco direito da minha parede. Agora nós estávamos sendo pressionados pelos dois lados e minha parede estava mais fina. Nós recuamos um pouco para deixar nossas linhas mais compactas e forçar o inimigo a andar por cima dos cadáveres que caíram quando as paredes se chocaram.
Essencialmente, eles tinham números e equipamentos enquanto nós tínhamos qualidade e experiência. Não que os sulistas não fosse soldados veteranos, mas eles obviamente não estavam acostumados a lutar em uma parede de escudos. Se eu tivesse que chutar, diria que eles lutam montados na base de técnicas de bater e correr, sem causar um enfrentamento direto.
Mas por que então Anitelli forçaria seus soldados a lutar conosco em uma parede de escudos? A resposta veio logo em seguida. Com a parede mais compacta nós éramos alvos mais fáceis para os escorpiões. Mesmo acertando seus homens no processo, Anitelli ordenou que as armas de cerco disparassem. Eu vi cerca trinta homens morrem com um tiro de escorpião que passou do meu lado. Eu olhei aquilo e fiquei congelada por um segundo, mas logo meu cérebro pegou no tranco e eu gritei para meus soldados se espalharem e lutarem individualmente. Se nós ficássemos em parede, seriamos mortos juntos de nossos inimigos.
Anitelli tratava os soldados do sul como bucha de canhão, então ele podia se dar ao luxo de perdê-los, contanto que nós matasse e as armas de cerco estivessem inteiras.
Capitulo 68 - Esforço valente
- Spoiler:
Embora Anitelli estivesse matando seus próprios homens com tiros de escorpião, a situação não aprecia muito melhor para o meu lado. Os cavaleiros sob meu comando eram mais competentes, mas a situação estava deteriorando muito rápido para um cenário onde os números dele venciam a minha qualidade. A unidade que eu havia enviado para resgatar a minha unidade de arqueiros remanescentes havia retornado com uma porção dela inteira, eu não havia reparado, mas Eduardo estava entre suas fileiras. Assim que me viu ele correu para o meu lado e nós reorganizamos nossas tropas.
Reformamos a linha de soldados, mas não estávamos em parede de escudos, eu precisava que os homens mantivesse a mobilidade e lutassem em pequenos grupos de três a cinco. Custou algum tempo, mas funcionou. Não estávamos mais recebendo tantas perdas dos tiros dos escorpiões, por isso eu dei a ordem para eles avançarem e atacarem os escorpiões.
Anitelli mantinha uma pequena parede de escudos a sua frente, o que impedia o acesso a ele e suas armas de cerco, mas suas estavam ficando mais finas cada vez que ele precisava mandar mais homens para combater no campo.
A situação virou quando, do noroeste da posição de Anitelli, uma trompa ecoou e os cavaleiros de Lorde Gomes emergiram da campina a todo galope, mirando a espinha da linha inimiga. Eu pude ver que o número de cavaleiros era bem menor que o número que havia partido mais cedo então estava claro que eles também haviam sido interceptados por Anitelli, mas haviam conseguido vencer seus inimigos.
Eu vi a expressão de Anitelli tomar um ar de surpresa, e usei esse para motivar as tropas a frente. Com Eduardo a eu lado eu investi contra a linha inimiga puxando minha lança e minha espada curta enquanto Eduardo avançava usando uma pesada espada de duas mãos, nós dois havíamos descartado nossos escudos.
Os homens renovaram sua esperança e avançaram com forças vindas apenas de seu desejo pela vitória. Eu avancei contra a linha a minha frente. Fiz o sulista perder a guarda com minha lança e em seguida cravei minha espada longa em sua barriga, arrancando suas tripas e derramando o sangue quando a puxei de volta. Eduardo aparou o golpe que vinha em minha direção e eu usei isso para enfiar minha lança bem fundo na cabeça do atacante. Os outros cavaleiros passaram por nós e tomaram o inimigo com fúria e bravura.
Os escorpiões haviam parado de disparar pois aqueles que atendiam a eles estavam sendo atacados pelos cavaleiros de Lorde Gomes e por isso eles não podiam focar em nós. Anitelli pessoalmente seguiu para lutar contra Lorde Gomes usando sua cavalaria leve que estava servindo de guarda costas.
Eu estava lutando para atravessar a parede de inimigos a minha frente. Eu cortava, investia, aparava, chutava e seguia a frente, deixando corpos para trás. Pois eu sabia que Lorde Gomes estava em perigo mortal. Anitelli e seus cavaleiros estavam descansados enquanto Lorde Gomes estava obviamente cansado por causa de uma batalha anterior mas mesmo assim veio nos ajudar sob marcha forçada.
Eu estava correndo na direção onde Lorde Gomes estava e senti impotência ao ver o próprio ser morto por Anitelli. Eles lutaram com equilíbrio, mas eu pude ver que Anitelli era habilidoso e comandava suas tropas muito bem. Entretanto isso não veio sem custo, pois a cavalaria de Lorde Gomes obliterou as armas de cerco e matou cerca de metade da cavalaria de Anitelli, que estava em maior número.
Após a queda de seu comandante, as forças de Lorde Gomes foram trucidadas, mas isso me deu tempo de chegar com alguns cavaleiros e forçar Anitelli a nós enfrentar. Eu poderia arriscar a dizer que ambos havíamos perdido cerca de 80% de nossas tropas, do ponto de vista estratégico eu diria que era uma vitória minha, mas eu não estava ligando para essas coisas.
A questão é que eu senti certa dor no peito quando vi Lorde Gomes morrer. Eu não tinha nenhum tipo de ligação com ele. Eu o considerava algo como um mentor e por isso senti raiva ao vê-lo cair. Ele era alguém que eu respeitava e agora Anitelli tinha entrado para a lista de pessoas que eu queria matar.
Peguei a lança de um cadáver próximo a mim e arremessei no cavalo de Anitelli, fazendo-o cair e sai correndo na direção dele. Eduardo e os outros cavaleiros seguiram comigo na investida. Os cavaleiros de Anitelli foram pegos desprevenidos e foram forçados a desmontar e lutar no chão. Eu parei perto do cavalo de Anitelli e esperei ele levantar, os outros já estavam lutando ao nosso redor e o cheiro de sangue estava impregnado no ar.
-“Eu gostava daquele cavalo...”, ele disse enquanto levantava.
-“Pode deixar, você vai se juntar a ele em breve!”.
Capítulo 69 - Queda
- Spoiler:
Eu e Anitelli corremos um na direção do outro e fizemos nossas espadas se chocarem. Mesmo com o impacto, nenhum dos dois recuou, ficamos com as armas travadas empurrando com toda a força que tínhamos. Anitelli tentou me bater com o escudo e eu tentei atravessar seu pé com minha lança, eu desviei do golpe do escudo e ele da minha estocada com a lança e com isso nós nos afastamos.
Ficamos circulando por um momento, analisando. Eu investi primeiro, usando a lança para força-lo a defender. Ele aceitou minha investida com o escudo, mas o fez de forma deque a ponta da lança foi para a esquerda após o impacto, me fazendo perder o ímpeto. Ele saltou para a minha direita e fez um corte horizontal visando meu ombro, eu deixei meu corpo ser levado pela inércia e simplesmente abaixei para esquivar do golpe. Eu estava de costas para ele, então fiz uma movimento mais brusco com a lança na forma de um corte horizontal usando o comprimento todo da lança.
Anitelli aparou o golpe com a espada,mas a força foi maior do que ele esperava e isso o fez perder o equilíbrio por um momento, eu usei essa abertura para girar meu corpo e ficar de frente com ele de novo. Anitelli ajeitou sua postura com o escudo erguido e investiu. Eu apoiei todo o meu peso na haste da minha lança e a forcei a se chocar contra o escudo. Desta vez a ponta da lança não foi defletida, ela atravessou o escudo arranhou o braço esquerdo de Anitelli.
Anitelli descartou o escudo e eu fui forçada a descartar a lança. Ele começou a usar as duas mãos para empunhar a espada e eu puxei meu punhal. Nós ficamos nos encarando por alguns momentos antes de novamente avançarmos um contra o outro.Agora que ele estava usando as duas mãos, ele tinha mais força na arma,mas eu tinha mais velocidade por isso eu evitei travar a minha espada com a dele.
Invés disso, nós ficamos na mesma posição trocando golpes. Ele investia, eu desviava e tentava um corte com o punhal que ele desviava. Eu fazia um corte horizontal e ele aparava com um corte vertical. Ele fazia um corte horizontal eu defletia usando a espada e o punhal. Após algumas trocas de golpes e tive a certeza que estava em desvantagem. A arma ele era mais pesada e se continuássemos assim, existia a chance da minha espada quebrar. Eu já conseguia ver algumas fendas na minha arma.
Lutando como uma cavaleira eu iria perder. Ele tinha mais experiência que eu nesse tipo de combate, por isso saltei para trás e tentei lutar como uma assassina de nova. Comecei a saltar em volta dele fazendo pequenos ataques leves e recuando. Uma hora eu iria conseguir pegar ele fora de guarda. Anitelli virava o corpo para acompanhar meus movimentos, o que significava que logo mais ele iria se sentir zonzo. Eu já estava acostumada a lutarem movimento, por isso acreditei que estava em vantagem.
Minha chance veio quando ele não girou rápido o suficiente para acompanhar meus movimentos. Eu saltei mirando seu pescoço tanto com a espada quanto com o punhal, iria cortar ele dos dois lados e fazer chover sangue do corte... Mas eu me enganei.
Ao invés de pegar ele, eu que fui pega. Anitelli virou com velocidade e a ponta de sua lamina veio na direção de minha cabeça. Eu consegui mover o pescoço e evitar a morte, mas a lamina dele ainda atravessou meu elmo e raspou minha cabeça na altura da orelha do lado direito, fazendo um corte significante na minha cabeça. A força da investida foi tanta que meu elmo foi removido quando ele terminou o ataque.
Mesmo sendo pega de surpresa e recebendo o ataque, eu ainda conseguir fazer um corte no peitoral de Anitelli com meu punhal, rasgando a cota de malha, mas não chegando a tocar a pele.
Eu saltei para me afastar e Anitelli não me seguiu. Meu olho direito estava vendo tudo avermelhado e não precisava ver isso para saber que eu estava sangrando bastante.
-“Se você tivesse usado esse mesmo truque no nosso último encontro, teria me matado. Nesse meio tempo em que não nos vimos eu aprendi a lutar contra assassinos sabe? Eu cacei um bando de vagabundos chamados de capas negras. Você conhece?”.
Desgraçado. Ele sabia que havia feito parte dos capas negras e foi atrás deles.
-“Eu pessoalmente matei todos eles. Inclusive aquele velho com sotaque estranho... As cabeças de todos eles estão nas pontas das lanças do portão oeste, você deveria dar uma olhada depois.”.
-“SEU DESGRAÇADO!”, eu investi com fúria e raiva. Ele havia jogando a isca e eu havia mordido. Enquanto eu corria na direção dele, eu vi ele ficando em posição para investir com a lamina no meu peito. Eu podia estar atacando com raiva, mas eu ainda tinha instintos e reflexos muito bons.
Quando eu estava no alcance, ele investiu com velocidade maior do que eu antecipava, mas eu girei no ar para desviar. Infelizmente não foi o suficiente, pois ele me acertou na barriga do lado esquerdo, mas a espada não atravessou. Em resposta, eu cortei em diagonal com a espada e o punhal no peito dele, onde antes eu havia cortado a cota de malha. Minha espada quebrou durante o golpe mas o punhal cortou carne profundamente.
Após isso eu cai no chão e olhei para Anitelli, ele colocou a mão no peito e depois caiu. Minha visão estava ficando turva e eu me sentia fraca, possivelmente por causa do sangramento na cabeça e agora na barriga. Minhas forças se esvaiam e eu olhei para o céu. Vi o rosto de Eduardo se aproximar e ele estava sem o elmo e chorando. Após isso, tudo escureceu.
Capítulo 70.1 - Reconquista, parte 1
- Spoiler:
Senti minha consciência voltar. Eu sentia meu corpo fraco e ouvia ruídos ao meu redor. Tentei abrir meus olhos, mas a luminosidade me forçou a mantê-los fechados. Coloquei o braço esquerdo sobre os olhos e tentei abri-los novamente, os sons ao meu redor ficando mais definidos.
Após me acostumar com a luminosidade, olhei em volta e percebi que estava em um quarto sozinha, meu corpo repleto de bandagens. Senti um pouco de dor no lado esquerdo do corpo e senti minha cabeça latejar. Sentei na cama e tentei olhar em volta, percebi que meu olho direito estava encoberto por uma atadura que cobria toda a minha cabeça.
Enquanto eu tentava reorganizar meus pensamentos, a porta do quarto se abriu e Eduardo entrou por ela. Ao me ver, ele derrubou a bandeja com a tigela com comida que estava carregando.
-“Carol! Você acordou! Graça divina sobre nós, você finalmente acordou!”.
Antes de sequer me dar tempo para responder ele saiu correndo a toda velocidade e eu pude ver que várias pessoas que passavam pelo corredor olhavam de relances para meu quarto e para mim.
Alguns momentos depois, Eduardo voltou com alguns médicos o seguindo.Ele me fizeram várias perguntas e vários exames no meu corpo, perguntando como eu me sentia.
-“Você ficou desacordada por quatro dias! Quando eu cheguei perto de você após a batalha, você estava super pálida e havia perdido muito sangue. Você perdeu a consciência pouco após eu te pegar. Felizmente havia alguns médicos dentre os não combatentes do inimigo e eles cuidaram de você e daquele verme do Anitelli.”.
-“Ele não morreu!?”, eu estava atônita.Tinha certeza que havia matado ele.
-“Não. E é triste dizer isso, mas você perdeu aquela luta. O corte que ele teve no peito foi profundo, mas não foi letal. Ele só iria morrer se ficasse uns dois dias sem atendimento. Você iria morrer se ficasse mais dez minutos sem atendimento.”
-“Então no fim eu falhei... E causei a morte de Lorde Gomes...”.
-“Você perdeu a luta, mas ganhou a batalha. Graças ao que lutamos naquela campina, o Anderson foi capaz de vencer a luta aqui. Quando as tropas inimigas perceberam que os reforços com as armas de cerco não iriam chegar, eles se lançaram contra as paredes da fortaleza e contra a parede de escudos montada nos portões. Foi um massacre! A fossa que circunda o castelo ficou atolada com o número de cadáveres que foram jogados lá.”.
Fiquei mais aliviada ao ouvir isso. Eu havia sido capaz de ajudar meu irmão e havia feito a vida dos homens que morreram vale a pena.
-“E que fim o Anitelli teve?”.
-“Uma coisa de cada vez Carol. Quando nós te trouxemos para cá, o Anderson correu pro seu lado e mesmo estando com alguns flechas atravessadas no corpo, ele pessoalmente te trouxe para este quarto e se recusou a ser tratado enquanto a sua situação não estabilizasse.”.
Eu fiquei um pouco espantada com aquilo, não conseguia imaginar meu irmão agindo assim.
-“Quando ele finalmente foi tratado e nós contamos para ele que havíamos capturado quem havia feito aquilo, foi como se a temperatura da sala ficasse como uma geada de inverno.Os olhos dele perderam a luz e ele marcou o julgamento do Anitelli para quando você acordasse.”
-“E se eu não acordasse?”.
-“Ele iria matar pessoalmente o cara e despedaçar o corpo dele, mesmo ele sendo um prisioneiro de guerra.”
-“Houveram mais prisioneiros?”
-“Sim. Contando os capturados das duas batalhas, mais ou menos quinhentos homens sobreviveram. A eles foram dadas duas opções: se unir a nós como cavaleiro ou ser vendido como escravo para as nações do oeste além mar.”
-“Nações do oeste? Eu não sabia que havia gente para aqueles lados...”.
-“Eu também não, mas seu irmão e alguns outros lordes cavaleiros fizeram uma aliança com eles enquanto estavam com os cavaleiros brancos na capital. Não só a oeste, pois ouvi falar que temos tratados com um arquipélago ao norte, que é o país de origem dos nórdicos. Fiquei sabendo de tudo isso depois que voltamos, pois o Anderson me chamou para relatar o que havia acontecido e eu usei a chance para pedir para ele me explicar essas coisas. Pois havia muita coisa suspeita... Como, por exemplo, de onde vieram os materiais que usaram para erguer esta fortaleza? E os trabalhadores? E os arquitetos? Tudo isso veio de fora. As nações estrangeiras prometeram ajuda em troca de algo, mas esse algo o Anderson não me disse.”.
-“E onde está o meu irmão agora?”.
-“Do lado de fora, esperando eu sair para entrar. Os médicos só permitiram uma pessoa te visitando por vez.”.
Eduardo sorriu e se levantou para sair. Ao chegar na porta ele fez gesto para alguém que eu não podia ver e saiu do quarto. Após isso eu ouvi uma marcha apressada se aproximando do quarto. Meu irmão abriu a porta e adentrou o quarto, era possível ver traços de ansiedade no rosto dele.
Capítulo 70.2 - Reconquista, parte 2.
- Spoiler:
Meu irmão estava vestido com roupa formal de comando, mas sem a armadura. Ele se sentou perto de mim e pegou minha mão.
-“Como se sente Carol?”.
-“Como se tivesse caído de uma árvore e quebrado todos os galhos dela até cair no chão.”.
Meu irmão riu da analogia familiar. Não era incomum quando eu mais jovem eu me acidentar assim. Eu gostava de ficar subindo nas árvores, e até aprender a me segurar direito, com frequência eu me feria. E sempre que isso acontecia meu irmão se sentava ao meu lado e ficava comigo até eu adormecer ou até a dor aliviar.
-“Pelo visto a armadura que arranjei se provou útil. Se fosse uma armadura normal você um corte de ponta a ponta no estomago.”. Meu irmão colocou a mão sobre minha cabeça e me acariciou com cuidado.
-“Irmão, Eduardo conversou comigo sobre coisas que aconteceram nesses dias que fiquei desacordada.”, antes que pudesse continuar, meu irmão me silenciou com um gesto.
-“Ainda vou te explicar essas coisas Carol, mas ainda não é a hora. Temos uma ultima empreitada a fazer: capturar a capital. Este quatro dias eu investi reequipando o exercito e cuidando dos feridos.”.
-“Capturar a capital? Mas nós perdemos tantos cavaleiros nessas duas batalhas...”.
-“Sim, o conselho que governa a capital perdeu mais. Todos eles eram mercenários. Nós temos mais soldados do nosso lado do que eles. Sem contar que, Anitelli era provavelmente o último comandante que eles tinham.”.
-“Falando no Anitelli, o que você vai fazer com ele?”.
-“Ele vai ser julgado hoje ainda. Mais tarde, eu e você iremos para a corte participar do julgamento.”.
-“Mas eu pensei que o julgamento dele só iria ser marcado para depois que eu acordasse...”.
-“E foi oras! Eu só fiz a marcação do dia ser para hoje.”.
Nós rimos com leviandade. Após isso nós divagamos um pouco sobre memórias passadas de quando éramos crianças. Meu irmão ficou comigo por todo o tempo, cuidando de mim e me mantendo feliz.
Cerca de duas horas depois do almoço eu já estava forte o suficiente para me levantar e andar. Meu irmão me guiou até a corte improvisada para julgamentos da ordem. Surpreendi-me ao ver que era a arena onde eu havia lutado. Havia filas de prisioneiros de guerra e um pequeno júri com 5 pessoas cuidando de cada fila. Meu irmão me guiou até a arquibancada onde os líderes de batalhão que estavam de repouso estavam. Nós sentamos e ficamos aguardando.
Cerca de meia hora após isso, todos os julgamentos foram concluídos ou deixados para outro dia. Um júri de vinte cavaleiros foi formado e posto em espera. Da entrada principal da arena Anitelli surgiu, com as mãos acorrentadas, mas sem nenhum sinal aparente de maus tratos.
-“Você observou bem Carol.”, meu irmão parecia ler minha mente –“Ele tem sangue azul, e vários cavaleiros ainda respeitam a linhagem dos nobres. Ficaria de mal gosto se ele viesse para o julgamento aos trapos.”.
-“Falar em nobres... Onde está o Land?”.
-“Entre o júri. Eles estão vestidos de forma a mascarar suas identidades para preservar a segurança do júri.”.
Anitelli foi posto no meio da arena em uma poltrona perante o júri e um homem mais velho servindo de juiz. O homem se levantou e começou o julgamento.
-“Estamos aqui reunidos hoje para avaliar o peso das ações cometidas pelo nobre cinza, Pedro Anitelli. Que os olhos das testemunhas na arquibancada mantenham-se atentos e que a justiça seja feita.”.
E com isso o juiz se sentou, olhou para o lado e gritou para seu ajudante: -“Que sejam lidas as ações do réu a ser julgado!”.
Entretanto, antes que o auxiliar pudesse sequer dizer, Anitelli ficou de pé.
-“Pela nobreza do meu sangue, eu exijo um tribunal de espadas com um inimigo de minha escolha!”.
E o silencio tomou arena.
Última edição por Anderson "BK" em 21/9/2014, 7:41 pm, editado 14 vez(es)